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O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, venceu no domingo, com uma cômoda vantagem, um referendo que lhe permite governar enquanto continuar ganhado eleições. O resultado deve estimular Chávez a aprofundar suas reformas socialistas, embora a atual crise econômica desafie os alicerces da sua "revolução".

No cargo há dez anos, Chávez diz precisar de pelo menos outros dez para implantar o que chama de "socialismo do século 21". Caso a emenda constitucional não tivesse sido aprovada, ele deveria deixar o cargo em 2013, sem ter um seguidor com condições políticas de manter seu legado.

No entanto, a queda do rendimento nacional (devido à desvalorização do petróleo) e a inflação galopante ameaçam diluir os benefícios dos programas sociais chavistas, que são a base da popularidade do presidente.

POLÍTICA INTERNA

- Chávez deve recuperar e inclusive aumentar sua popularidade, parcialmente desgastada durante a campanha eleitoral por causa da retórica agressiva usada nos palanques. Dessa forma, nos próximos meses deve ter margem de manobra para adotar medidas eventualmente impopulares.

- Inicialmente, ele deve mostrar um tom conciliador com os adversários, mas o confronto permanecerá latente, voltando a eclodir no fim do ano, quando começará a mobilização para a eleição parlamentar de 2010.

- O resultado devolve ao ex-militar a sensação de invulnerabilidade eleitoral que ele havia perdido em 2007, quando os venezuelanos rejeitaram uma ampla reforma constitucional que dava mais poderes a Chávez, inclusive eliminando os limites à reeleição do presidente. Até então, Chávez nunca perdera uma eleição.

- A fragmentada oposição, que obtivera alguns avanços nas eleições regionais de 2008, recebe agora um duro golpe político e terá de se reorganizar para ganhar espaços na Assembleia Nacional, dominada pelo governismo.

ECONOMIA

- A queda nos preços do petróleo põe em xeque alguns planos socialistas de Chávez, que depois da sua esmagadora reeleição de 2006 iniciou uma ambiciosa campanha de nacionalizações de amplos setores da economia, pela qual ainda tem de indenizar algumas multinacionais que tiveram bens estatizados.

- Alguns analistas acham que o governo ainda poderia intervir em outros setores estratégicos, como alimentação, saúde e financeiro, buscando um maior controle estatal para reduzir os efeitos da crise sobre a população.

- Chávez prometeu não reduzir os milionários investimentos sociais, e descarta uma desvalorização do bolívar ou novos impostos. Dessa forma, deve usar até o limite as reservas internacionais de divisas e diversos fundos, à espera de uma recuperação no preço do petróleo. Analistas acreditam, no entanto, que ele se verá obrigado a desvalorizar o bolívar, sobre o qual há câmbio fixo.

- Embora limitado pela difícil situação econômica, o líder esquerdista continuará impulsionando a economia estatal, social e comunitária, em detrimento do setor privado, com movimentos como mais entrega de terras e empresas locais a grupos comunitários organizados.

- Chávez deve também continuar destinando recursos a organizações comunitárias de base, que dependem diretamente do poder central, e não das administrações locais, algumas das quais nas mãos da oposição, para construir a economia socialista.

POLÍTICA EXTERNA

- Relegitimado nas urnas, Chávez manterá o compasso de espera frente ao novo presidente dos EUA, Barack Obama, embora mantenha o discurso "anti-imperialista" e as críticas ao capitalismo norte-americano.

- Chávez continuará sendo uma referência para os governos esquerdistas da América Latina, dando um passo além dos aliados governos de Equador e Bolívia, que recentemente aprovaram novas Constituições de teor socialista, mas com limitações à reeleição dos seus presidentes.

- A vitória no referendo permitirá a Chávez também relançar sua política externa, que teve de deixar de lado diante da apertada agenda doméstica. Assim, Caracas deve continuar aprofundando suas alianças com governos hostis a Washington, como Cuba, Irã e Rússia.

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