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O WikiLeaks disponibilizou todo o seu arquivo de documentos dos Departamento de Estado norte-americano nesta sexta-feira, a maioria deles sem edição. A medida foi alvo de críticas de grandes jornais que no passado colaboraram com os esforços da organização de expor casos de corrupção e traição no governo dos Estados Unidos.

Muitas empresas de comunicação, dentre elas as Associated Press, tiveram acesso prévio a pelo menos parte do material não editado. Mas a decisão do WikiLeaks de disponibilizar os 251.287 documentos diplomáticos em seu site, torna disponível para qualquer os nomes de fontes diplomáticas. Autoridades norte-americanas advertiram que a divulgação dos documentos poderia ameaçar pessoas vulneráveis como integrantes da oposição e ativistas de direitos humanos de vários países.

Um comunicado conjunto publicado no site do jornal britânico Guardian diz que a publicação britânica e seus parceiros internacionais - o norte-americano The New York Times, o francês Le Monde, a alemã Der Spiegel e o espanhol El País - "deploram a decisão do WikiLeaks de publicar documentos do Departamento de Estado sem edição, o que pode colocar fontes em risco".

Anteriormente, empresas internacionais de comunicação - e o próprio WikiLeaks - haviam editado os nomes de fontes potencialmente vulneráveis, embora o padrão tenha variado e alguns especialistas tenham advertido que até mesmo pessoas cujos nomes foram retirados dos documentos ainda estão em risco.

Mas agora muitos, talvez todos, os telegramas postados no site do WikiLeaks trazem os nomes dos envolvidos, o que torna fácil identificar dissidentes em países autoritários como Rússia, China e Mianmar.

Há dois dias, membros da equipe do WikiLeaks não retornam os pedidos de comentário sobre o assunto. Mas numa série de mensagens no Twitter, o grupo parece sugerir que não teve escolha a não ser publicar todo o material porque cópias dos documentos já estavam circulando na rede após uma violação de segurança.

O WikiLeaks responsabiliza o Guardian pelo problema, afirmando que uma senha muito importante usada para descriptografar os arquivos foi publicada num livro lançado por David Leigh, um dos repórteres investigativos do jornal e ex-colaborador do fundador do WikiLeaks, Julian Assange.

Mas o Guardian, Leigh e outras publicações rejeitam a acusação. Embora a senha tenha realmente sido publicada no livro de Leigh, sete meses atrás, os jornalistas do Guardian disseram que o problema verdadeiro é que o WikiLeaks postou o arquivo criptografado na internet por acidente e que Assange não se preocupou em mudar a senha que abre o arquivo.

No comunicado, os parceiros internacionais do Guardian se uniram para criticar Assange. "Nós não podemos defender a desnecessária publicação dos dados completos. Na verdade, estamos unidos na condenação a isso", diz o comunicado. "A decisão de publicar foi de Julian Assange, apenas dele", diz o documento.

A rejeição das empresas de comunicação é um novo golpe para o WikiLekas. O site está sob embargo financeiro e seu editor-chefe está sob prisão domiciliar numa mansão no interior da Inglaterra à espera da decisão da justiça sobre sua extradição para a Suécia, onde é acusado de ataque sexual.

Mas também é um sinal do aumento do distanciamento entre o WikiLeaks e as empresas tradicionais de mídia. Assange e seus partidário há tempos não se entendem com o Guardian e o New York Times e, num recente comunicado, o grupo afirmou que organizações de mídia ocidentais "desaceleraram o ritmo de publicação" de matérias com base nos telegramas.

Como resultado, a organização disse que vai recorrer cada vez mais à colaboração, ou seja, pedir a usuários da internet, para peneirar seus documentos vazados e material mais importante.

Trata-se de uma tática relativamente nova do grupo, que no passado contava com importantes parceiros para organizar e promover seus vazamentos espetaculares de informações sigilosas, dentre eles documentos de inteligência sobre as guerras no Iraque e no Afeganistão.

Em meio à controvérsia, o grupo Repórteres sem Fronteiras disse que suspendeu temporariamente seu "site espelho" do WikiLeaks. Esses sites atuam como cópias de seus originais, aliviando a pressão do endereço original que recebe muitos acessos e preserva dos dados no caso de ataque.

Em comunicado, o Repórteres sem Fronteira disse que não tem "fontes nem técnicas, humanas ou financeiras para verificar cada telegrama" para saber o que poderia prejudicar pessoas inocentes e por isso "tem de jogar com segurança". O Departamento de Estado norte-americano também condenou a divulgação dos documentos.

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