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O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, antes do início da primeira reunião para se tentar um acordo, em Tegucigalpa | Yuri Cortez/AFP
O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, antes do início da primeira reunião para se tentar um acordo, em Tegucigalpa| Foto: Yuri Cortez/AFP

Violência

Início do diálogo é marcado por repressão a manifestantes

Agência Estado

Tegucigalpa - Cerca de 150 manifestantes da Frente de Resistência contra o Golpe de Estado (FRG) reuniram-se no fim da manhã de ontem em frente da rua que dá acesso à Embaixada doBrasil em Tegucigalpa, onde está abrigado o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya.

A polícia dispersou-os com bombas de gás lacrimogêneo, cujo efeito foi sentido dentro da embaixada, causando ardência nos olhos e no nariz, dores de cabeça e mal-estar nos seus 60 ocupantes.

O médico Marco Girón, um voluntário da "resistência" na embaixada, distribuiu máscaras cirúrgicas e recomendou que as embebessem com pastilhas efervescentes para o estômago, que contêm bicarbonato de sódio.

"Mel, aguenta, o povo se levanta", gritavam os manifestantes, chamando o presidente deposto pelo seu apelido. "Mel, amigo, o povo está contigo."

Por várias vezes entre a noite de terça-feira e o dia de ontem puderam ser ouvidos na embaixada gritos de ordem dos militantes a favor de Zelaya.

O delegado Daniel Molina, porta-voz dos policiais que montam guarda ao redor da embaixada, disse a emissoras de rádio locais que os manifestantes estavam "violando o decreto" que impôs o estado de sítio no fim de semana retrasado. Foi uma prova de que, na prática, o decreto não foi revogado, como prometera na segunda-feira o presidente de fato, Roberto Micheletti.

"Uma manifestação pacífica acaba de ser reprimida violentamente com gás lacrimogêneo", reclamou Zelaya.

  • Defensores de Zelaya protestam em rua de Tegucigalpa: pressão aumenta

Tegucigalpa - Descontente com o formato das negociações iniciadas ontem, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, afirmou que o diálogo começou com "maus presságios’’ e que não reconhecerá as eleições de 29 de novembro caso não seja restituído ao cargo dentro de uma semana.

"Estamos todos de acordo de que, se não há uma restituição (...) até 15 de outubro, por falta de validade, por falta de credibilidade, de confiança das comunidades nacional e internacional, fica sem valor nem efeito o calendário eleitoral elaborado’’, disse Ze­­laya, em entrevista coletiva no jar­­dim da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde está refugiado com cerca de 50 familiares, assessores e seguidores há 18 dias.

Apesar do tom de unidade que quis dar, o ultimato de Zelaya não foi consenso entre os que o apoiam. O candidato presidencial independente de esquerda Carlos H. Reyes disse que ainda fará uma avaliação à parte sobre se participará ou não das eleições. "Como sindicalista, não costumo usar prazo. Depois não funciona, e aí fazemos o que com ele?’’, disse, por telefone, um dos dois candidatos presidenciais que apoiam a volta de Zelaya, de um total de seis.

O presidente deposto também tem demonstrado irritação com a forma na qual as negociações foram traçadas pela Organização dos Estados Americanos (OEA) – em que não se prevê um acordo definitivo até hoje, como era a sua expectativa.

"Manipulação"

"O diálogo está começando com maus presságios, com a repressão, fechamento de meios de comunicação e ainda pela manipulação até do programa que está sendo implementado’’, afirmou Zelaya, também na coletiva, pela manhã.

A reclamação fez representantes diplomáticos anteciparem a visita a ele na embaixada de hoje (como inicialmente previsto) para a noite de ontem.

Mediação

O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, abriu ontem a negociação de uma solução para a crise hondurenha com o reforço da pressão da comunidade internacional para a restituição de Zelaya, como prevê o Acordo de San José. Insulza agregou ainda sete outras exigências, entre as quais o fim do estado de sítio que vigora no país desde o dia 26 e a retomada das transmissões da Rádio Globo e do Canal 36 de televisão, que foram fechados pelo governo de fato dois dias depois.

As negociações foram abertas com uma hora e meia de atraso porque, apenas algumas horas antes, os três representantes de Zelaya tiveram autorização do governo de fato para entrar na embaixada brasileira, onde receberam instruções.

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Cenários

Fonte: Reuters

Veja possíveis resultados das negociações que começaram ontem para pôr fim à crise em Honduras:

Zelaya volta,mas com restrições

- Sob isolamento internacional, o governo de fato poderia aceitar a volta de Zelaya ao poder, mas com restrições à sua autoridade. Isso significaria uma aceitação do formato básico do acordo de San José. Mas os detalhes sobre a formação do governo de unidade e a anistia que permitiria o regresso de Zelaya demorariam mais.

Terceiro nome

- Com uma crise que já dura mais de três meses, ambos os lados podem ser convencidos a ceder. Uma proposta seria escolher um terceiro nome considerado aceitável para atuar como presidente interino até janeiro, quando o mandato de Zelaya terminaria. Micheletti já disse estar disposto a renunciar se isso ajudar a superar a crise. Mas Zelaya não parece disposto a aceitar tal opção.

Negociação fracassa

- No pior cenário, as negociações fracassam com relação ao ponto principal, a restituição de Zelaya na Presidência. Com a suspensão das restrições à imprensa e às manifestações populares, a ser oficializada nos próximos dias, os seguidores de Zelaya podem tomar as ruas para pressionar por sua volta. Zelaya, Micheletti e Honduras como um todo poderiam sofrer isolamento e condenação internacionais.

Acordo limitado

- O chamado Acordo de San José, uma tentativa de mediação realizada no começo da crise pelo presidente da Costa Rica, Óscar Arias, e que pede a restituição do poder a Zelaya, seria modificado. A nova proposta se limitaria a manter o diálogo e as concessões, como o relaxamento do cordão de segurança em torno da embaixada brasileira. Micheletti, que recebeu a primeira visita de dignitários estrangeiros de primeiro escalão, pode estar ganhando tempo. Ele insiste que as eleições de novembro são cruciais para o fim da crise. Ainda há muitas dúvidas sobre o futuro de Zelaya. Líderes empresariais apresentaram uma proposta, rejeitada pelo presidente deposto, em que ele aceitaria a prisão domiciliar até as eleições. Ele provavelmente ficará na embaixada brasileira se o cerco for relaxado e ele puder ali conversar com políticos e negociadores.

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