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Zelaya embarcou na aeronave do presidente da República Dominicana, que ajudou a negociar a crise | AFP
Zelaya embarcou na aeronave do presidente da República Dominicana, que ajudou a negociar a crise| Foto: AFP
  • Presidente hondurenho(centro) e domunicano (esquerda)se encontraram com Zelaya na embaixada brasileira antes da partida
  • Apoiadores de Zelaya foram ao aeroporto ver sua partida
  • Hondurenhos foram com bandeiras ver a partida de Manuel Zelaya
  • Zelaya saiu da embaixada brasileira de automóvel

O presidente hondurenho deposto, Manuel Zelaya, chegou nesta quarta-feira à República Dominicana, onde foi recebido na qualidade de hóspede depois do golpe de Estado que o depôs em junho do ano passado, disseram fontes oficiais.

Zelaya, deixou no final da tarde desta quarta-feira a Embaixada do Brasil na capital hondurenha e seguiu para o aeroporto, onde embarcou para Santo Domingo, República Dominicana. Zelaya deixou o recinto numa caravana de 20 automóveis, acompanhado por sua esposa, Xiomara Castro, e sua filha Hortência Zelaya.

Uma multidão se reuniu no Aeroporto de Tegucigalpa e saudou o líder deposto, que partiu em jatinho particular para Santo Domingo acompanhado por seus familiares e pelo presidente dominicano Leonel Fernández.

Zelaya agradeceu ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, ao chanceler brasileiro Celso Amorim e ao assessor presidencial Marco Aurélio Garcia a proteção diplomática dada pelo Brasil.

Acompanhado de um grupo de correligionários, Zelaya estava abrigado há quatro meses na representação brasileira.

Nesta quarta-feira (27), o ex-presidente recebeu salvo-conduto do novo presidente hondurenho, Porfírio "Pepe" Lobo, para sair do país sem ser preso. Lobo tomou posse durante a tarde.

A partida de Zelaya marca um fracasso da diplomacia regional, que não conseguiu restaurar o estado democrático de direito. A crise revelou também divisões entre o governo de Barack Obama, nos EUA, e outros países latino-americanos, já que Washington reconheceu a eleição de Lobo, embora tivesse inicialmente criticado o golpe e cortado ajuda financeira ao governo de facto.

Obama também apoiou as negociações entre Zelaya e o governo de facto, que terminaram sem nenhum resultado concreto.

Zelaya acordou tarde nesta quarta-feira, segundo relatos de pessoas que o acompanham, porque foi dormir de madrugada. Ele manteve a rotina habitual, sem alterações. Nas ruas da capital, Tegucigalpa, porém, o clima é outro: seguidores do ex-presidente promoveram manifestações e reuniram-se no aeroporto internacional da cidade sua espera.

Desde a eleição presidencial em Honduras, em novembro passado, Pepe Lobo e o presidente da República Dominicana, Leonel Fernández, negociavam a concessão do salvo-conduto e a saída de Zelaya, sem riscos para ele e sua mulher. Na terça-feira (26), o ex-presidente disse que pretende retornar a Honduras tão logo Pepe Lobo consiga fechar um acordo de conciliação.

O golpe de Estado em Honduras, em 28 de junho de 2009, foi promovido por uma ação conjunta envolvendo integrantes das Forças Armadas, da Suprema Corte e do Congresso Nacional, sob o comando do então presidente do Legislativo, Roberto Micheletti. Ele assumiu a presidência do país com a deposição de Zelaya que, na ocasião, deixou Honduras.

Em 21 de setembro, Zelaya retornou capital hondurenha e abrigou-se na Embaixada do Brasil, na companhia da mulher e de cerca de 60 correligionários. Para o governo brasileiro, ele é um hóspede e amigo do Brasil, como, por várias vezes, se referiram a ele o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e assessores diretos.

Desde que Zelaya se hospedou na embaixada, o local foi cercado por militares das Forças Armadas de Honduras. O prédio foi mantido sob permanente vigilância objetos, alimentos e mantimentos eram vistoriados antes de ser entregues aos que estavam no edifício. O governo brasileiro rechaçou o golpe e não reconheceu a gestão Micheletti, nem a eleição de Pepe Lobo.

Na terça-feira, o Congresso Nacional de Honduras aprovou o decreto de anistia aos golpistas, ao presidente deposto e a seus aliados. O presidente Lobo contou com o apoio decisivo de seu Partido Nacional para que a proposta fosse aprovada.

Posse

Porfirio Lobo foi empossado nesta quarta como o novo presidente de Honduras, após meses de tumulto político decorrentes da deposição de seu predecessor Manuel Zelaya. Lobo foi eleito em 29 de novembro e desde então tem tentado restabelecer relações diplomáticas com os países que não reconheceram o governo de facto, chefiado por Roberto Micheletti.

O Brasil e outros governos latino-americanos não reconheceram -- ao menos por enquanto -- a legitimidade do mandato de Lobo, já que sua eleição, em 29 de novembro, foi organizada pelo governo de facto instaurado depois do golpe.

Os protestos e o isolamento internacional contribuíram para que a crise econômica que Honduras vive se agravasse. Quando Zelaya foi derrubado, o governo ainda não contava com um orçamento aprovado pelo Congresso. "Todos sabemos que eu recebo um país na bancarrota, sabemos que os atores políticos de diferentes governos dilapidaram Honduras", disse o presidente eleito há alguns dias à imprensa local.

A crise

O Brasil, tentando ampliar sua influência diplomática na região, concedeu refúgio a Zelaya em sua embaixada quando o líder deposto retornou a Honduras em setembro. Mas seus partidários transformaram a representação diplomática em um caótico acampamento e tropas cercaram o prédio.

O presidente de facto de Honduras, Roberto Micheletti, nomeado pelo Congresso no dia do golpe, seguiu no cargo mesmo após os Estados Unidos cortarem a ajuda militar e bancos multinacionais terem congelado empréstimos ao país. Ele afirmou que só sairia com a posse do novo presidente em 27 de janeiro.

Grupos de direitos humanos documentaram sérios abusos, incluindo mortes, enquanto forças de segurança reprimiam protestos pró-Zelaya semanas após o golpe.

Lobo, um rico proprietário de terras da mesma província rural de Zelaya, afirmou querer superar a pior crise política da América Central em décadas e recuperar a ajuda internacional cortada.

"Devido à crise política, Honduras perdeu 2 bilhões de dólares em ajuda estrangeira e investimentos internacionais", afirmou durante sua cerimônia de posse. A economia hondurenha, baseada na exportação de café e de tecidos, sofre com a crise econômica mundial.

A maioria dos hondurenhos está ansiosa em deixar a crise para trás.

"É um alívio que agora haja menos pressão de fora", disse Jorge Sierra, segurança de 43 anos.

Líderes econômicos e adversários políticos do próprio partido de Zelaya acusaram-no de ter violado a Constituição para seguir no poder, repetindo políticas adotadas pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez.

Zelaya nega as acusações, mas ainda há um mandado de prisão contra ele. Sob o acordo acertado com Lobo, que permitiu sua ida para a República Dominicana, ele poderá evitar o julgamento.

Ele prometeu retornar um dia ao país, mas seu futuro político parece obscuro. Seu exílio também poderá limitar o alcance regional de Chávez.

Como um sinal de que Honduras está tentando apagar as lembranças do golpe, uma Corte Suprema do país inocentou líderes militares de acusações de abusos de poder no dia do golpe.

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