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O ano termina com um balanço desanimador para o agronegócio brasileiro – fato reconhecido pelo próprio ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, destoando da marcante característica do governo ao qual pertence de vender otimismo e de cantar vitórias, mesmo as que não lhe pertencem. Para o ministro, 2005 foi o "pior dos mundos" para o setor, que, segundo seus cálculos, acumulou prejuízos da ordem de R$ 21 bilhões. A crise foi generalizada, não poupando praticamente nenhum segmento da agropecuária. "Não há políticas que permitam resolver um problema desse tamanho", disse um desolado Rodrigues.

Afora a omissão de São Pedro de não mandar chuvas em quantidade suficiente e no momento certo, o que dizimou muitas lavouras e reduziu a produtividade geral, quase todos demais problemas enfrentados pelos produtores rurais neste ano tiveram origem na condução da economia pelo Ministério da Fazenda e pelo Banco Central. E o que é pior: 2006 poderá configurar mais um período de dificuldades, caso o governo não reformule a política econômica.

Com efeito, as perdas do setor agropecuário foram causadas por fatores nitidamente vinculados, direta ou indiretamente, ao monetarismo posto em prática no país. No afã de manter a inflação sob absoluto controle, o governo lançou mão do juro alto como único (e pouco criativo) instrumento. Ao utilizar este meio por tão largo período, o resultado secundário foi a progressiva desvalorização do dólar frente ao real, o que diminuiu a competitividade dos nossos produtos no mercado externo e, sobretudo, impôs uma pesada redução da renda aos produtores rurais.

Somados a isso, os agricultores se defrontaram com inúmeros outros percalços. Os custos de produção, por exemplo, cresceram substancialmente como decorrência da vertiginosa alta do petróleo. Ao mesmo tempo, os preços agrícolas caíram nas principais bolsas mundiais, atingindo o algodão e, de modo especial, o complexo soja, carro-chefe das nossas exportações agrícolas. Nossas fronteiras abriram-se também à importação de arroz e trigo em prejuízo da sua produção interna.

Como se não bastasse, o ano foi também marcado pelo surgimento de focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul e no Paraná. Os importadores reagiram: pelo menos 53 países impuseram embargos totais ou parciais à carne brasileira, significando uma perda de US$ 250 milhões de outubro para cá. Os embargos continuarão por pelo menos mais seis meses, o que significa que 2006 já começará com restrições para este segmento do agronegócio.

O setor espera ardentemente por mudanças. A primeira e mais essencial na política de juros, não só porque lhe prejudica diretamente, mas também por constituir-se num entrave ao crescimento geral da economia brasileira. E espera também que, pelo menos, o governo cumpra o implacável calendário agrícola, liberando as linhas do crédito agrícola no momento certo – providência absolutamente vital para, pelo menos, manter a estabilidade dos preços agrícolas e, obviamente, para garantir o mínimo indispensável para a recuperação.

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