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O Paraná é um estado relativamente jovem. Comemoramos, em 2003, 150 anos de emancipação política. Do Sul, somos o mais jovem. Essa parece ser uma das razões da forte presença estatal em nossa história, na história do nosso desenvolvimento. Até mesmo porque nesse curto espaço de tempo de nossa existência, não aconteceu aqui um acúmulo de capital tão expressivo quanto vimos, por exemplo, nos estados de São Paulo, Minas Gerais e outros.

A história da nossa vida econômica feita de ciclos, começando pelo ouro, passando depois pela madeira, o mate, e batendo os costados no café, talvez seja outra explicação para que não tenha havido um significativo acúmulo de capitais. Afinal, a economia dos ciclos exaure-se, esgota à medida da decadência do produto explorado e interrompe-se o período de prosperidade.

Quando os ciclos debilitam-se, quando o último deles, o café, começa a entrar em crise, o Paraná viu que era preciso diversificar sua economia, buscar alternativas sólidas, consistentes, em contraposição ao extrativismo. É aí que entra o estado. É aí que surgem governadores com o descortido de um Manoel Ribas, de um Bento Munhoz da Rocha Neto e de um Ney Braga. Eles entenderam quanto era essencial o papel do estado na construção do Paraná moderno.

É quando nascem a Copel, a Sanepar, é quando se recria o Banestado, é quando o Porto de Paranaguá deixa de ser um simples atracador para se transformar verdadeiramente em um porto. É quando são construídas as nossas hidrelétricas, as nossas rodovias, é quando são organizados os institutos de apoio ao desenvolvimento tecnológico, à renovação da agricultura e da pecuária.

Nessas últimas décadas, cada governador, ao seu tempo, contribuiu para fortalecer essa estrutura estatal de apoio ao desenvolvimento paranaense.

Cito como exemplo o governador Roberto Requião em seu primeiro mandato, que construiu a Hidrelétrica de Segredo, transformando o Paraná auto-suficiente em energia elétrica e iniciou a Hidrelétrica de Caxias. Que construiu a Ferroeste, fazendo finalmente a ligação, por ferrovia, da região maior produtora de grãos do Paraná com o nosso porto. Que deu continuidade a um vigoroso programa de construção, recuperação e duplicação de rodovias, melhorando significativamente a nossa estrutura viária. Que construiu a ponte de Guaíra, ligando o Paraná ao Mato Grosso e à toda a região Centro-Oeste do Brasil.

Quer dizer, há décadas que o Paraná vem sendo construído, que novas melhorias são acrescentadas para atrair investimentos, para estimular os nossos empresários. O estado desempenhando um papel muito forte de indutor do desenvolvimento.

É por essa razão que eu não entendo aqueles que querem federalizar ou privatizar o nosso porto. A federalização soa-me como algo absolutamente deslocado, já que, tomando como referência tudo que listei acima, não vejo a presença do governo federal na história do nosso desenvolvimento, pelo menos com traços marcantes.

Já a privatização também não se sustenta pelo simples fato que o porto público, a todos acessível, democraticamente à disposição do conjunto de nosso empresariado, é essencial para o desenvolvimento econômico estadual. Privatizar o porto, elevar suas tarifas, restringir ou selecionar pelas leis do mercado os que podem dispor de seus serviços é estrangular iniciativas e conter as nossas forças empresariais.

Não é à toa que países de extraordinário desenvolvimento capitalista, como os Estados Unidos e o Japão, mantêm seus portos públicos. Isso é essencial, tanto para a competitividade no mercado, através do controle de tarifas, como para democratizar o acesso de todas as forças econômicas às possibilidades das importações e exportações.

Por que seremos diferentes? Ainda mais aqui no Paraná, um estado tão jovem, ainda em construção e que tanto precisa da participação estatal em seu processo de avanço.

É por isso que manifesto aqui o meu apoio e o apoio da entidade que presido à brava luta dos paranaenses para a manutenção do nosso porto, público e estadual. Seria possível imaginar o Paraná de hoje sem a Copel, sem a Sanepar, sem as nossas ferrovias e rodovias, sem as nossas hidrelétricas, sem as nossas linhas de transmissão de energia, sem os nossos aeroportos? Por que, então, entregar o nosso porto? Quem ganha com isso? Certamente não os paranaenses.

O porto é nosso e assim deve permanecer.

Abdo Aref Kudri é jornalista e presidente da Associação das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas do Paraná – Sindejor.

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