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Escolhido ontem por 597.200 eleitores, o advogado e ex-deputado Gustavo Fruet é o novo prefeito de Curitiba. Sua vitória, tida no primeiro turno como improvável, deve ser creditada à impecável carreira política que empreendeu a partir dos anos 90, quando foi eleito vereador, e consolidada por três sucessivos mandatos que exerceu até 2010 na Câmara Federal. Como parlamentar, deixou sua marca como um dos mais combativos, capazes e respeitados opositores ao governo do presidente Lula, especialmente por sua participação nas comissões de inquérito que desvendaram o esquema do mensalão, patrocinado por altos dirigentes petistas.

Surpreendentemente, porém, após não encontrar espaço dentro do PSDB e do grupo político a que pertencia para candidatar-se à prefeitura da capital – anseio pessoal legitimado por inegável apelo popular –, acabou por encontrar abrigo justamente entre agremiações das quais foi algoz. Foi essa aliança de última hora, incompreendida e combatida por grande parcela da população, que sustentou sua campanha vitoriosa. Se a essa aliança o novo prefeito vai corresponder com apoio futuro – feito "cavalo de Troia", como muitas vezes foi acusado – só o tempo dirá. Mas não resta a menor dúvida de que sua eleição representa desde já um sério golpe às pretensões políticas do governador Beto Richa e, por consequência, fortalece o projeto petista de levar a ministra Gleisi Hoffmann ao Palácio Iguaçu em 2014.

Afora esse importante efeito político do resultado do pleito de ontem, há outros aspectos a serem analisados a partir dessa definição das urnas. Eles dizem respeito ao futuro de Curitiba e ao cotidiano de seus habitantes. Foi a ideia-força da "mudança segura" que alicerçou a campanha de Fruet e com a qual obteve o apoio de 60,65 % do eleitorado. "Mudança segura" une dois conceitos que constituem formidáveis desafios que permaneceram vagos durante a propaganda eleitoral. Mudar o quê e em que direção? A esta pergunta sobrepõe-se a outra, representada pelo adjetivo "segura", o que pode significar que o novo prefeito não pretende colocar em risco as conquistas que Curitiba já acumulou ao longo das últimas décadas. De qualquer forma, nessa dualidade conceitual, prevalece o substantivo "mudança". Mais: tal substantivo seria referente apenas à troca de um grupo político por outro ou pode significar a imposição de novo modo de ver e administrar a cidade?

Não é preciso ser grande especialista em soluções urbanas nem ser atento cientista social para constatar que Curitiba precisa mudar e tal mudança supõe necessariamente uma visão política diversa da atual – mas de sentido mais profundo que aquele determinado pelo simples câmbio partidário operado na eleição de ontem. É fácil perceber que a cidade já não pode ser olhada como uma simples unidade, mas já se encontra ampliada pela junção física e social dos municípios que a circundam. Mais que ser prefeito da capital, Gustavo Fruet deverá se revestir da condição de administrador de uma metrópole conturbada com realidades e interesses múltiplos, diferenciados e concorrentes.

Este será o seu principal desafio – fazer a "mudança segura" em direção a um futuro que se aproxima com rapidez e que não se constrói apenas com simples intervenções para melhorar as calçadas, tapar os buracos do asfalto, construir novas creches e novos postos de saúde, rotina em que basicamente se empenharam as últimas gestões. Além dessa rotina feita de simplicidades obrigatórias, o desafio que se impõe ao novo prefeito é o de preparar não só a capital, mas grande parte da região metropolitana para um porvir que exige esforços gigantes.

Em pouco mais de uma década, estima-se que a "grande Curitiba" abrigará população estimada em 4 milhões de habitantes. Não se poderá pensar, por exemplo, em sistemas de transporte que atendam tão somente à população de Curitiba, mas a toda a região, assim como precisarão ser igualmente integrados os serviços de saúde, educação e segurança. A infraestrutura viária, o abastecimento de água, o tratamento de esgoto, a coleta e destinação do lixo – problemas comuns a toda a metrópole – precisarão de uma atuação que exigirá do novo prefeito uma visão estratégica de longo prazo.

Tal complexidade não foi devidamente "vendida" para os eleitores, que compraram a ideia da "mudança segura" durante uma campanha cujo objetivo se concentrava principalmente em buscar o maior número possível de votos. Mas precisa estar na cabeça de quem os conquistou em maior número para que a administração que empreenderá a partir de janeiro próximo recoloque Curitiba no caminho do futuro que se afigura.

É o que todos esperam do novo prefeito. E torcem para que ele torne real e concreta a promessa em que a maioria acreditou.

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