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Fotos das tempestades de verão registram casas destruídas pela queda de pinheiros. As vítimas relatam ter pedido a poda ou derrubada, mas os entes públicos negaram o requerimento. Tenho a impressão de que esse problema é relativamente novo. Antigamente, pinheiro ficava no mato e casa, na cidade. Na roça, o entorno das residências era limpo, sem árvores grandes. Hoje, os pinheiros vicejam nas cidades, ao lado das casas; no campo, quase não os há. Por que houve essa inversão?

Os números indicam a diminuição dos pinheirais, remanescendo apenas árvores isoladas, insuficientes para garantir a diversidade genética. Por força desse decremento, vê-se no horizonte a extinção da espécie. Quando esse perigo é manchete, as notícias complementares trazem pessoas que falam sobre o medo de deixar pinheirinhos nascer e, mais tarde, o terreno perder valor porque as árvores não podem ser extraídas. Perfeito círculo vicioso: não se plantam araucárias porque elas se tornam problemáticas para o proprietário do terreno urbano ou rural; e, porque não são plantadas, tenta-se evitar a extinção criando problemas para quem as tem. Por que se chegou a esse beco?

Volta e meia se sabe de plantios comerciais de araucária, feitos há décadas, que têm o corte proibido porque elas se tornaram tão raras que não devem ser abatidas. Penso que o raciocínio sobre o tema foi deslocado do aspecto econômico, urbanístico, ambiental, para a seara moral, quase religiosa. Passou-se a exigir que as pessoas preservem as araucárias por fé em algum deus da floresta, uma fada do pinhão. O foco tem sido a preservação das árvores existentes, sem incentivo seguro para o plantio. No afã de preservar, age-se como se a natureza fosse estática, degenerativa, e não dinâmica, regenerativa.

Seria maravilhoso se nossos móveis tivessem a beleza do pinho, muito distante da feiúra desses feitos de chapas que são meleca de celulose e resina. Quanta química e poluição a menos! Porém, a mera ideia de uma mesa de pinho maciço se tornou heresia, motivo para ser lançado numa fogueira de lenha de eucalipto, não de nó-de-pinho.

O fanatismo conservador inibiu a pesquisa de variedades de araucária de crescimento mais rápido e de melhor qualidade para serraria, abrindo espaço para o pínus. Milhares de hectares do centro-leste do Paraná poderiam estar cobertos por araucárias destinadas a aproveitamento comercial. O resultado para a fauna e flora circundante seria muito melhor. Pena que isso fica só na minha imaginação ao mirar a paisagem de verde monótono entre Piraí do Sul e Jaguariaíva.

Os silvicultores não vão aos bancos para financiar o plantio de araucárias porque temem a insegurança jurídica. Os bancos, mesmo os oficiais, por sua vez, relutam em conceder empréstimo porque sabem que o risco é grande. Assim, é fácil obter dinheiro para pínus, eucaliptos. Para plantar pinheiros, impossível.

O governo poderia financiar o plantio de araucárias e, caso houvesse futura proibição de extração, assumir contratualmente a obrigação de indenizar o silvicultor. São investimentos de longo prazo – 30 anos – que exigem segurança jurídica. Se o governo não atrapalhar, o capitalismo pode salvar os pinheirais.

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