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Roberto Campos faleceu no dia 9 de outubro de 2001 – portanto, há quase 15 anos, um mês após o atentado terrorista contra as Torres Gêmeas do World Trade Center e o Pentágono. Formado em Filosofia e Economia, em seus 84 anos de vida ele teve longa carreira de diplomata, embaixador, ministro, senador, deputado e escritor. Era um gênio de cultura enciclopédica, economista preparadíssimo, polemista de lógica implacável, um futurista que via à frente de seu tempo.

Como secretário da embaixada brasileira nos Estados Unidos, Roberto Campos participou, em 1944, da conferência de Bretton Woods, em New Hampshire, nos Estados Unidos, que criou o padrão-dólar em substituição ao padrão-ouro, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e as regras que moldaram a ordem econômica do mundo atual. Sua sabedoria econômica e a enorme competência técnica levaram governos de diferentes matizes ideológicos e partidários a dar-lhe importantes funções e missões.

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Roberto Campos era pessimista com a América Latina, a cujos esquerdistas ele acusava de brigar com a lógica

Foi o criador do BNDES e seu primeiro presidente, autor do Plano de Metas de Juscelino Kubistchek e, como ministro do Planejamento de Castello Branco, foi o principal idealizador e executor das reformas tributária, trabalhista e bancária, do que resultou a criação do ICMS, do FGTS, do Banco Central e da Lei do Sistema Financeiro Nacional. A partir dos anos 80, ele passou a dizer que sua obra fora deturpada e transfigurada por modificações deletérias, inclusive pela Constituição de 1988.

A experiência internacional de Roberto Campos foi consolidada nas funções de embaixador do Brasil nos Estados Unidos, durante o governo João Goulart, e embaixador na Inglaterra, no período de Ernesto Geisel, retornando ao Brasil em 1982 para se eleger senador pelo estado de Mato Grosso e duas vezes deputado pelo Rio de Janeiro. Roberto Campos era um liberal clássico, defensor da liberdade, dos direitos individuais, da democracia política e da economia de mercado.

Como secretário da Embaixada do Brasil nos Estados Unidos na época da Segunda Guerra Mundial, desenvolveu a crença de que a intervenção estatal, sobretudo na infraestrutura física, era necessária para promover o desenvolvimento dos países; que a superação da pobreza dependia da abertura ao exterior; e que o governo devia regular as atividades privadas para direcionar os investimentos e o sistema produtivo.

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Após longa experiência no setor público, ele se desiludiu com o governo, ao qual acusava de precária conduta moral e baixa capacidade gerencial. Descrente do Estado como agente do desenvolvimento, aderiu ao liberalismo como saída para a superação do atraso. Após acreditar nas ideias e soluções estatizantes de John Maynard Keynes e ver que elas acabariam em desastre, aderiu às ideias de Friedrich von Hayek, para quem a solução está na iniciativa individual, não na intervenção estatal.

Roberto Campos era pessimista com a América Latina, a cujos esquerdistas ele acusava de brigar com a lógica e ignorar a racionalidade econômica, e os ironizava, dizendo: “Se os esquerdistas latino-americanos fossem administrar o Deserto do Saara, logo haveria escassez de areia”. Durante décadas, alertou sobre a vocação do governo para se tornar, cada vez mais, um guloso sugador e um péssimo provedor.

Nos tempos modernos, em que homens brilhantes andam raros, reler Roberto Campos é um prazer e um alento contra a mediocridade. Ele se foi há 15 anos, mas suas ideias continuam válidas e atuais.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.