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Ao ser questionado sobre as perspectivas para 2009, recentemente, disse que o contexto macroeconômico continuaria desfavorável para o crescimento em meio a uma crise que não era conjuntural (momentânea), mas estrutural (que traria mudanças ao sistema). Alguns economistas, entre os quais eu me incluo, entendem como um momento de transformação e inovação para a superação do modo de reprodução do capital, que já encontra sua exaustão neste início de século XXI. A aposta é que essas inovações estarão relacionadas com a incorporação de sistemas produtivos mais eficientes no uso dos recursos naturais. Esses recursos aumentam cotidianamente o seu valor econômico no sistema de mercados, enquanto seu estoque está acabando e não nos damos conta de que não é a Terra que cobrará a conta, mas simplesmente chegará o tempo em que ela será inóspita para nossa sobrevivência, como ocorreu com tantas civilizações. "Mas por que falar de um futuro tão distante?", alguns alardeiam. Em realidade o ritmo de consumo dos recursos nas últimas décadas aproxima, e muito, este "futuro distante".

Para sairmos da crise e nos desenvolvermos precisamos lidar com duas importantes questões: inovar, para usar melhor os recursos, e repensar nossos valores. O primeiro ponto parece um natural caminho do próprio sistema capitalista: buscar novas tecnologias e criar modelos de reprodução. Isso, contudo, não é simples. Alguns setores e mercados serão substituídos por outros, o que representa alternância de poder e oportunidade e transforma-se em uma natural barreira para impedir ou dificultar mudanças nos sistemas. Aqueles que perdem sempre tentaram prolongar suas vidas nas velhas formas que tinham que ganhar dinheiro e estabelecer poder. A própria Opep no ano passado fez a sua vez influenciando na redução do preço do barril de petróleo para desestimular a forte grita em prol da energia renovável. Enfim, isso é natural do sistema, mas quanto mais esse velho sistema conseguir desestimular a mudança, mais deveremos prolongar a crise. A questão é quem são os velhos e os novos: saberemos apenas quando soubermos qual é a inovação.

Na outra ponta, a segunda questão, sobre repensar nossos valores, é bastante complexa. Vivemos na sociedade do "ter", uma sociedade consumista e que demanda esse ritmo de produção e trabalho que estamos envolvidos atualmente. Contudo, como mostra um documento, disponível na web, A história das coisas (History of Stuff), as pessoas vivem para trabalhar e consumir, e praticamente 99% do que é consumido vira lixo em seis meses. Ou seja, nunca consumimos e produzimos tanto lixo em nossa história. A resposta é repensar o que pretendemos. Antes de responder o que é ser um país desenvolvido temos de responder, individualmente, o que é o desenvolvimento para cada um de nós. Esta resposta pode nos ajudar a refletir mais sobre nossa atual forma de viver e repensar nos valores que empregamos às coisas. Preocupamos-nos com emprego, escola para os filhos, vestimenta para família e comida farta, carros luxuosos e com esquemas de segurança, casas repletas de conforto e com a última palavra em tecnologia, enfim, nos preocupamos com o contexto e não com o conteúdo. Choramos quando perdemos uma pessoa querida, dedicando mais tempo para este sentimento posteriormente do que para a pessoa quando estava conosco. Não pensamos em olhar para os familiares e amigos ao lado que estão bem vivos, mas que não temos "tempo para dar atenção". Em contrapartida, buscamos sempre dar-lhes um "bom contexto" e crescemos como uma sociedade vazia de valores, apesar de ser ligada ao conhecimento. Mudar esse nosso comportamento depende de uma reflexão individual que poderá modificar, e muito, a forma de encararmos a crise.

Por isso vencer a crise e se desenvolver não significam conseguir um emprego melhor, mas conseguir se conhecer melhor e dar valor ao que está à sua volta.

Não compartilho de todas as visões do nosso presidente, apesar de respeitá-lo, obviamente. Mas acho que ele foi muito feliz na mensagem do "Café com o presidente" do dia 22 de fevereiro, ao dizer que a redução dos acidentes de carnaval depende das pessoas; de uma mudança de comportamento. Não adianta apenas colocar mais policiais, disse ele. Esse é o ponto: as pessoas precisam se policiar. O mesmo vale para crise: não adianta esperar que alguém faça algo para melhorar. Nós temos de começar querendo ser melhores em um mundo melhor. Parafraseando outro presidente, "nós podemos".

Christian Luiz da Silva é economista, pós-doutor em Administração, professor da UTFPR e do doutorado de Gestão Urbana da PUCPR.

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