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 | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

“Muito se fala dos cavalos do governo Alvaro Dias, poucos se lembram do pavor que sentimos ante os cães do governo Ney Braga.” Em 2002 ouvi essa frase de uma professora aposentada da educação do Paraná, dirigente sindical no Núcleo APP-Cornélio Procópio. Ela se referia ao episódio ocorrido durante a greve de 1981, no último ano do governo de Ney Braga no Paraná. Relembro aqui o antes da violência de Alvaro Dias, o durante e o depois.

Passados 30 anos da violência policial do governo Alvaro Dias contra a manifestação de educadores e apoiadores da greve histórica por melhores salários e condições de trabalho, professores e funcionários das escolas, juntamente com demais servidores do estado, além de estudantes e representações de movimentos sociais, voltam às ruas para seguir em marcha até o Centro Cívico, palco daquela violência de três décadas passadas.

A violência ocorrida há 30 anos se repetiu – com planejamento governamental de massacre – no dia 29 de abril de 2015. Desgastado pela greve ocorrida em fevereiro e março, o então governador Beto Richa teve de retirar da Assembleia Legislativa do Paraná o pacote de destruição das carreiras dos servidores. Retirar os recursos da previdência superou qualquer desumanidade até então. A preparação toda soou até como vingança sobre os servidores.

As violências das cavalarias, das balas de borracha, dos ferimentos que sangram são a face explícita de uma violência que se reproduz no cotidiano da maioria da população

As violências das cavalarias, das balas de borracha, dos ferimentos que sangram são a face explícita de uma violência que se reproduz no cotidiano da maioria da população. Das péssimas condições de trabalho, que aumentam o adoecimento, o assédio moral; das práticas antissindicais, como lançamento de faltas sobre manifestações legítimas; das denúncias estimuladas pelo próprio governo, até a matança de jovens das periferias das grandes cidades, vemos explicitar a cada dia as profundas desigualdades e os retrocessos do presente.

Outra face cruel que se aprofunda são as invisíveis perseguições e o assédio moral sobre educadores do Paraná. Logo após o 29 de abril, o próprio Richa estimulou o assédio sobre servidores. Numa atitude jamais imaginada para o papel de um governador, imprimiu contracheques de professores com salários distorcidos e comparou-os com salários de prefeitos, numa verdadeira conduta obsessiva, e revelou seu pensamento de cultura escravocrata – para o governador, é impensável um prefeito receber salário menor que um professor. Foi preciso acionar a Justiça para que aquela distorção fosse corrigida. Orientado por um jornalista especialista na comunicação mentirosa para recuperação de reputações, Richa atacou a APP-Sindicato partidarizando a luta pela pauta sindical, aproveitando a crise política que resultou no golpe com afastamento da então presidente da República.

Leia também: O que comemorar neste Dia do Professor? (artigo de Hermes Silva Leão, publicado em 14 de outubro de 2017)

Leia também: As escolas, escoadouro das nossas mazelas sociais e éticas (artigo de Jacir Venturi, publicado em 10 de setembro de 2017)

Então, ocupar as ruas para denunciar as diversas faces da violência e a impunidade dos poderosos de sempre é tarefa coletiva, não apenas de uma categoria, mas da luta do povo em geral neste período em que um governo ilegítimo como o de Michel Temer, apoiado pela maioria parlamentar, impõe ao povo brasileiro um golpe de Estado que visa aumentar ainda mais a riqueza para menos de 2% da população – a chamada elite do atraso, do conceito preciso do professor Jessé Souza e que sempre foi de natureza autoritária, portanto propensa aos golpes.

Para a educação pública brasileira o cenário é desastroso. Se aplicada a reforma do ensino médio, com a proposta de BNCC e sua redução curricular a patamares jamais vividos pelo ensino brasileiro, o Brasil será colocado em ritmo acentuado de destruição dos sonhos e ideais das novas gerações.

Portanto, estamos nas ruas de Curitiba para lutar. Chamamos a sociedade paranaense a refletir essa trajetória histórica e somar forças na construção de uma sociedade onde respeito, paz e liberdade sejam possíveis. Essa construção não virá da elite, mas sim da participação da maioria do povo.

Hermes Silva Leão é presidente da APP-Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná.
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