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Prepare-se para uma grande batalha. Ela já começou, muito mais cedo do que você esperava. É a batalha contra as mudanças climáticas, que podem comprometer nosso futuro. Nunca, como hoje, foi tão vital o compromisso da autoridade local com as gerações futuras. Prefeitos, vereadores, secretários municipais e demais gestores do poder local precisam governar pautados pela dramática mudança do clima – uma conduta política e administrativa que torna ainda mais imperativo o exame dos problemas da cidade moldado pelo planejamento de longo prazo, em ações compatíveis com a solução de suas necessidades mais urgentes.

Ao defender essa visão estratégica em palestra na Cúpula Mundial das Grandes Cidades para o Clima – evento realizado na semana passada, em Nova York –, reafirmei alguns dos conceitos que foram discutidos recentemente em Curitiba no encontro Cidades e Biodiversidade, no qual prefeitos de diferentes continentes enfatizamos um ponto central: a batalha contra a mudança climática será travada nas cidades. É no âmbito da metrópole que vamos ganhar, ou perder, a guerra pela preservação da diversidade biológica.

As razões para isso são bastante claras: é nas cidades que já vive a maioria da população global, é o meio urbano que consome a maior parte das matérias-primas e é neste perímetro que são geradas as maiores descargas de poluentes atmosféricos e de resíduos que comprometem a integridade de biomas e ecossistemas.

Conseqüentemente, também é nas cidades que se observam os maiores impactos ambientais e demográficos decorrentes da progressiva destruição da biodiversidade. Os impactos de caráter social e econômico atingem de maneira mais perversa as populações pobres, aprofundando a desigualdade e criando assimetrias estruturais nas periferias das grandes e médias cidades, sobretudo nas nações em desenvolvimento, onde as administrações locais lidam com terríveis limitações orçamentárias.

Em Nova York, tive oportunidade de fazer um breve relato da nossa Linha Verde, avenida que irá expandir a capacidade do sistema de transporte coletivo de Curitiba em harmonia com os conceitos previstos no BioCidade, programa que concebemos prevendo uma série de ações integradas em água, habitação, saúde, educação e lazer, com o propósito fundamental de deter as perdas de biodiversidade urbana e, o mais importante, melhorar a qualidade de vida da população.

A Linha Verde e o BioCidade despertaram a atenção de vários colegas prefeitos, seja do mundo desenvolvido ou dos países emergentes, assim como anotamos inovações e experimentos executados em outras cidades. A troca de idéias e de experiência era uma das motivações do evento de Nova York e por si só o justificava.

Mas o objeto central e fio condutor de nossas preocupações, como ficou nítido na Cúpula das Cidades, está no propósito das autoridades locais de assumir um papel de vanguarda no combate ao aquecimento global, o que inclui maior autonomia em relação a outras esferas de governo.

Neste aspecto, fiquei particularmente feliz com os debates de Nova York, cujas conclusões foram antecipadas na Declaração de Curitiba, aprovada em março, no Cidades e Biodiversidade. Nesse encontro, como sabe o leitor, fui incumbido de levar a Declaração de Curitiba à COP-9, a Conferência das Partes sobre a Convenção da Diversidade Biológica, convocada pela ONU para maio de 2008 em Bonn, na Alemanha, em que pretendemos chamar definitivamente a atenção para o fato inquestionável de que o grande embate por uma vida mais saudável ao redor de todo o planeta será travado nas cidades, da mais remota aldeia à maior das megalópoles.

Concluo com a palavra de ordem que lançamos já na Declaração de Curitiba: todo o poder às cidades no combate ao aquecimento global.

Beto Richa é prefeito de Curitiba.

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