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A catástrofe ambiental do Golfo do México, de dimensões ainda subestimadas, nos oferece um bom momen­­to de reflexão sobre o esgotamento da era das energias fósseis ou sujas.

O economista Ignacy Sachs, em evento na recém-criada Unila (Universidade da Integra­­ção Latino-Americana), alertava para a ocorrência de várias crises conjugadas nessa mu­­dan­­ça de século. Enumerava a crise financeira e especulativa nos EUA, a crise socioeconômi­­ca de âmbito mundial, a crise epistemológica, da forma como pensar o desenvolvimento, e a crise ambiental, que remete à coevolução da espécie humana com a biosfera.

Dizia ele que a solução para a crise ambiental estaria justamente em efetuar uma saída ordenada da era das energias fósseis, que teve início no século 17 com o carvão, o gás e o pe­­tró­­leo. Não se trataria de uma volta às civilizações tradicionais do vegetal, e sim de uma nova transição em direção ao que chamou de "biocivilizações do futuro", com o uso inteligente e múltiplo das biomassas – bioprodutos produzidos por biorrefinarias.

O grande desafio do século 21, entretanto, estaria em encontrar uma fórmula para mitigar as mudanças climáticas e ao mesmo tempo gerar progresso social. Trata-se de fazer convergir o ambiental e o social, criando "empregos verdes". Justamente aqui estaria a grande tare­­fa: encontrar o equilíbrio entre os objetivos so­­ciais e os ambientais. As respostas estariam na transição para a economia de matriz energética limpa, subordinada a um triplo critério, quais sejam, uma economia socialmente includente, ambientalmente sustentável e economicamente viável. Por óbvio a segurança energética não pode atropelar a segurança alimentar.

A sociedade tecnológica atual, com alto uso das energias fósseis que provocam o aquecimento global, levou a globalização a extremos que não se justificam. Por que temos que co­­mer frutas que amadurecem no verão durante o inverno, trazendo as frutas de avião? O padrão de trocas internacionais é totalmente irracional.

Deveríamos inserir no centro do debate sobre a crise ambiental a redução do padrão da demanda energética. O consumo aumenta a um ritmo maior do que a descoberta de novas jazidas, e estas, por sua vez, são de mais difícil acesso, e logo com custos de produção mais elevados e maiores riscos ambientais.

Inevitável estabelecermos um paralelo entre a plataforma do Golfo do México e o pré-sal brasileiro, situado a 7 mil metros abaixo do sal. A questão ética está em decidir explorar ou não essas novas jazidas. Se a resposta for positiva, devemos dar um bom destino a essas riquezas. A riqueza gerada deve ser usada para construir a transição a um mundo pós-petróleo. Assim, buscaríamos uma resposta simultânea aos dois desafios do século: mudanças climáticas e passivo social. Os estômagos vazios não decorrem de um déficit de produção, mas de um déficit do poder de compra. O ambiental deve estar sempre junto com o social, e a crise ambiental recoloca no centro do debate a crise social.

Quanto aos riscos ambientais, como o de um vazamento no mar, ou o impacto negativo do aquecimento global, caberá a nós fazermos a reflexão. Estamos iniciando a substituição da matriz energética suja, e o sucesso dependerá de todo o planeta. Cooperação internacional, certamente, é um dos ingredientes que não poderão faltar.

Larissa Ramina, doutora em Direito Internacional, é professora da UniBrasil e da UniCuritiba

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