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Não se pode negar que o candidato Geraldo Alckmin está fazendo o possível para atender aos apelos dos seus angustiados aliados ao elevar o tom e a força nos ataques ao adversário favorito, o presidente-candidato Lula.

Bate, mas não convence. Parece boxeador principiante a esmurrar a esmo, sem acertar nos pontos vitais do inimigo. Lá de quando em vez, encaixa o soco afortunado, como na dura declaração de que o governo de Lula "sob o ponto de vista ético, foi um descalabro, uma lista telefônica da corrupção". E, na mesma seqüência de golpes, profetiza que "o Brasil vai crescer pouco. O Lula não vai mudar porque o negócio dele não é esse. Ele não gosta de governar. Gosta de fazer discurso". A pancada resvala no ato falho de considerar a reeleição de Lula como fato consumado.

Volta à ofensiva, mirando o queixo do partido que Lula esqueceu na campanha: "A questão do PT é roubo, é corrupção, desvio de dinheiro público".

A conversão do candidato à tática de desespero da guerrilha, parece descuidar da retaguarda, com os repetidos sinais de afrouxamento no corpo a corpo com o escândalo da corrupção, o recordista de todos os tempos.

É sintomático o desalento que inspirou o patético discurso do senador Jefferson Peres (PDT-AM), candidato a vice-presidente na chapa de Cristovam Buarque, com o plenário às moscas, para anunciar que deixará a vida pública ao fim do mandato, em 2010. Desfiou as contas da amargura do rosário do desencanto: "Como ter animação com o país que tem um presidente que meses atrás era conivente com os piores escândalos de corrupção e está marchando para ser reeleito, talvez em primeiro turno?".

É mais um da minguada reserva moral do Congresso, que antecipa a retirada no tom peremptório da decisão sem volta.

Não por coincidência, quando o cansaço, misturado com o tédio e a sensação da inutilidade de dar murros em face de ponta, adverte para a debandada dos últimos combatentes na briga com a corrupção.

Pequenos, médios episódios que se atropelam na retirada em marcha batida. E que têm que ser catado no noticiário de todos os dias, em safra crescente. É indefensável o recuo da cúpula tucana no apoio ao companheiro, senador Antero Paes de Barros, acusado pelo empresário Luiz Antônio Vendoin, ilustre chefe da máfia dos sanguessugas, de propor quatro emendas ao Orçamento para a compra de ambulâncias superfaturadas, embolsando a propina de R$ 32 mil, pagos pela prestimosidade do deputado Lino Rossi, da impoluta bancada mato-grossense do PP.

Um partido de oposição, legenda do candidato presidencial, não pode bancar tribunal para absolver o parlamentar às voltas com a Justiça, sob as sovadas e frágeis justificativas de sempre.

Muito mais alarmante as explicações do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (STF), ministro Marco Aurélio, para os embaraços que trancam a anunciada medida saneadora para impedir a posse dos candidatos envolvidos na novela da roubalheira e ainda respondem a processo na Justiça. É o ensarilhar de armas antes da retirada, de cabeça baixa, da ousada tentativa de resistir à inevitável repetição da farsa das absolvições em massa de senadores e deputados denunciados pelas CPIs e pelos Conselhos de Ética das duas Casas do Legislativo, pelos acordos indecorosos dos partidos, tecidos nos conchavos do baixo clero na troca de gentileza do "eu salvo o seu deputado, você salva o meu."

Em nova cambalhota no picadeiro, o omisso presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo, marcou para o próximo dia 5, terça-feira, a votação do projeto que acaba com o voto secreto em cassações de mandato. E que é, como se sabe, o equivalente ao túnel dos presos para a fuga em massa de cadeias e penitenciárias.

Pura encenação. As quadrilhas articulam o não comparecimento à sessão, para impedir que haja quórum.

No ato final, toda a responsabilidade de salvar o espetáculo é transferida para as costas do eleitor, desafiado a expulsar do Legislativo, em todos os níveis, os mafiosos envolvidos na série de escândalos, "como nunca houve neste país".

Se o voto negar fogo, vamos saltar sem pára-queda do avião em chamas, no deserto das áreas devastadas da Amazônia para a plantação de soja transgênico ou a criação de gado – sob os cuidados do que sobrou do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), depois da operação da Polícia Federal que desbaratou a quadrilha que forjava laudos técnicos ambientais.

Resta o Supremo Tribunal Federal (STF) como a esperança, que é a última que morre. Mesmo desenganada, pode ser salva.

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