| Foto: Valdenio Vieira/Presidência da República

O Rio de Janeiro tem sido um marco no contexto urbano brasileiro, tanto em relação a boas quanto a más práticas. Recentemente, ações e reações negativas têm se sobreposto de forma contundente.

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Particularmente, a ação do poder público tem se notabilizado pela incapacidade de gerir o território e, mais ainda, a sociedade. O ambiente urbano tem se degradado paulatinamente, o que tem múltiplas origens, dentre as quais destaca-se a gestão político-administrativa no mínimo incompetente, se não irresponsável.

Um dos setores mais afetados, discutidos e divulgados é o da segurança pública. Essa área, peça fundamental na equação das funções urbanas por sua capacidade de influenciar a percepção da sociedade em relação ao ambiente citadino, emerge como grande vilã da atual qualidade de vida do carioca, culminando, recentemente, com o maior dirigente do estado admitindo falhar no planejamento e ação de segurança durante o carnaval, principal evento do Rio de Janeiro. Ressalte-se que ele ocorre anualmente há muito tempo, havendo, portanto, experiências prévias que permitem conhecer sobejamente suas características.

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Os problemas vividos no Rio podem ser replicados para outras cidades brasileiras?

Nesse quadro, há viabilidade de reverter a atual situação que reverbera por todo o Brasil e até internacionalmente? Os problemas lá vividos podem ser replicados para outras cidades brasileiras?

Certamente que sim. Se, por um lado, o grau de deterioração da vida no Rio de Janeiro é amplamente divulgado pela mídia, por outro, tem fundamental importância como um caso a ser considerado na gestão urbana de qualquer cidade brasileira. Seria falso e ingênuo achar que só o Rio está com problemas. Também não seria exagero afirmar que, em escalas diferentes, na quase totalidade das cidades do país a credibilidade da gestão pública junto à sociedade está cada vez pior.

Este cenário se torna ainda mais preocupante ao se perceber que a população, principalmente jovem, tem à sua frente a oportunidade de escolher entre adotar uma postura ética e moralmente considerada correta ou estar alinhada e cooptada pelo grupo dos malandros, espertos e, num grau mais avançado, bandidos. Esse balanço está há algum tempo pendendo para o segundo lado.

Leia também: Troca da guarda: o Rio sob intervenção (artigo de Leandro Piquet Carneiro, publicado em 19 de fevereiro de 2018)

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Inúmeros depoimentos e posicionamentos têm procurado respostas milagrosas. Uns afirmam que o problema é de polícia; outros, de emprego; e há até aqueles que remetem a causa à transferência da capital nacional para Brasília, no século passado. Infelizmente, muitos desses depoimentos são dados por autoridades das mais diversas áreas e que, inconsciente ou irresponsavelmente, tiram o foco do âmago do problema.

O que fazer ao se atingir a atual situação do Rio, em que há grande concentração de mazelas comuns a outras cidades brasileiras?

Pode-se perguntar se as Forças Armadas serão uma solução. Procura-se um caminho simplista para um problema complexo. A questão não passa apenas por uma ação de força policial ou militar, embora ela faça parte e dela se dependa para uma situação de emergência, que deve ser temporária.

O contexto do Rio de Janeiro pode e deve ser extrapolado para todo o território nacional, incluindo, evidentemente, o paranaense. Uma oportunidade de fazer frente a este quadro generalizado de problemas consiste em uma forma coordenada e competente de reação do poder público, em sintonia com a sociedade, por meio da formulação de políticas públicas integradas que abranjam o conjunto da vida das pessoas nas cidades. A sociedade brasileira majoritariamente clama por ações que levem a uma inflexão nesta tendência cruel da perda de esperança em um futuro melhor.

Leia também: Crise, intervenção e o flagelo dos “especialistas” (artigo de Diego Pessi e Bruno Carpes, publicado em 19 de fevereiro de 2018)

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Exemplos internacionais mostram que há solução. Necessariamente, ela passa por fazer pender a balança para o lado do bem. O jovem deve conseguir perceber que é muito mais interessante conseguir ter uma vida digna, boa e segura, por intermédio de uma boa formação pessoal e profissional, tendo à sua disposição um Estado que garanta um ambiente saudável.

Em uma viagem à Colômbia, ao indagar uma senhora – mãe de uma criança que subia o teleférico nas ocupações dos morros de Medellín – sobre as diferenças de antes e depois da intervenção pública naquele ambiente, ela me respondeu com outra pergunta: “O que o senhor acha? Antes, eu levava seis horas para ir da avenida até a minha casa, agora levo 15 minutos. Antes eu não tinha certeza da chegada dos meus filhos em casa e não havia condições para eles estudarem. Agora, essa obra e nossa biblioteca, nossa escola e nosso posto de saúde são exemplos para o mundo”.

O Rio tem jeito, sim. A solução definitiva demandará muito tempo, talvez mais de uma geração, e não atinge apenas aquela cidade, mas as daqui também. O pacto social necessário para reverter esta tendência maléfica de piora dos ambientes urbanos deve ser firmado não com discursos demagógicos de falsos representantes políticos, mas com propostas concretas, viáveis, encaminhadas por estadistas que tenham o poder como meio para efetivar suas propostas de políticas públicas, e não para promover seus benefícios pessoais.

Carlos Hardt é professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUCPR.