• Carregando...

Quando a presidente Dilma Rousseff assumiu seu mandato em 2011, a economia brasileira atravessava uma fase bastante positiva, mesmo levando em consideração que o cenário mundial estava deteriorado. E, após um período de medidas políticas equivocadas, a economia brasileira se mostra bastante frágil, com alta dos preços, elevação da taxa de juros, queda do crescimento econômico e aumento da pobreza. Portanto, em aproximadamente três anos foi possível perceber claramente que algo está errado e que ações corretivas precisam ser tomadas.

Mas, diferentemente da área econômica, em que os problemas se manifestam em períodos de dois a quatro anos, os problemas na área ambiental levam muito mais tempo para serem detectados, e, por causa disso, são mal interpretados ou são ideologicamente distorcidos. E é isso justamente que está ocorrendo com a seca em boa parte do território brasileiro. A seca não é um evento atípico, cuja probabilidade de ocorrência é muito baixa, mas a manifestação inicial de um fenômeno que pode se tornar muito mais frequente do que imaginamos.

Embora muitas cidades já estejam diante de racionamento agudo, o caso mais emblemático é nos municípios que formam a Região Metropolitana de São Paulo. Para contornar o problema, diversas soluções estão sendo apresentadas, como a perfuração de poços, o tratamento do esgoto, a construção de sistemas para produzir água utilizando a umidade do ar e a captação de água de regiões mais distantes, por exemplo. No entanto, nenhuma dessas soluções será suficiente se não houver uma quantidade mínima de água na natureza. E essa quantidade é que está sendo severamente comprometida.

Mais que tais soluções ou a adoção da contabilidade criativa do Sistema Cantareira, é fundamental reverter as causas da seca, ou seja, conter as ações humanas que estão interrompendo o fluxo de umidade proveniente da região amazônica, e que recebe a denominação de "rios voadores". Para que esses rios sigam o seu fluxo é necessária a presença da floresta, que tem a capacidade de transformar a chuva em outras nuvens, de tal forma que áreas mais além também tenham chuva. O excelente estudo do pesquisador do Inpe Antonio Nobre esclarece essa ligação entre os rios voadores e a floresta.

Por causa de ações que não compreenderam a dinâmica dos biomas amazônico e do Cerrado, em que o desmatamento vem sendo a lógica predominante de ocupação, as áreas florestais estão cada vez mais comprometidas, bem como o leito dos rios voadores. Dessa forma, esse grande vazio florestal entre as regiões Sudeste, Centro-Oeste e parte do Norte se comporta como uma espécie de barragem, mantendo o fluxo de umidade na própria região amazônica, onde provoca inundações, como o recente caso da região do Rio Madeira.

Eliminar essa barragem requer mais áreas de florestas. E para isso é fundamental cessar o desmatamento e reflorestar as áreas sensíveis que já foram desmatadas dos biomas amazônico, do Cerrado, do Pantanal e da Mata Atlântica. Para isso duas grandes medidas são necessárias. A primeira, de caráter institucional, é corrigir vários equívocos do recente Código Florestal Brasileiro. E a segunda, operacional, é o investimento de aproximadamente 1% do PIB no plantio de florestas nas próximas duas décadas. Portanto, é necessário um plano nacional para as florestas, semelhante aos outros já existentes relacionados com a saúde e moradia, por exemplo. Se essas medidas não forem tomadas, a água deixará de ser um recurso renovável e grandes áreas do Brasil passarão por um processo de desertificação, como em outros continentes de mesma latitude.

Esse período de estiagem deve ser visto como o alerta de que há um problema estrutural e não apenas como algo esporádico que em breve se normalizará. Se essa preocupação não entrar na agenda das três esferas de governo, nenhuma outra política será capaz de resolver o problema e estaremos cada vez mais longe de prosseguir com o desenvolvimento econômico e social do Brasil.

Rodolfo Coelho Prates, doutor em Economia pela USP, é professor do programa de mestrado e doutorado em Administração da Universidade Positivo.

Dê sua opinião

Você concorda com o autor do artigo? Deixe seu comentário e participe do debate.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]