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A lanterna de Diógenes que procurava um homem honesto em Atenas é uma imagem recorrente para pensar sobre a ventania forte e as ondas de crise que se lançam sobre o Senado Federal.

Não raro, cada um de nós é portador dessa lanterna simbólica e procura, sempre no outro, fora de nós, o oposto daquilo que realmente se busca. Nem sempre se trata realmente de um encalçar do ser íntegro e incorruptível, mas sim de um cruzamento acusatório para concluir, afinal, que ainda no Brasil, a tarefa de Diógenes está inconclusa.

Esse procedimento de nos colocarmos de fora do barco no momento das tempestades é uma arrogância talvez própria da natureza humana. Afinal, o inferno são os outros, como escreveu Sartre.

Ocorre que, a rigor, estamos todos no mesmo barco: nós, o Senado e todos os "Outros". Ainda que a singular identidade de ideias e comportamentos não seja, felizmente anote-se, simétrica, estamos todos na mesma barca que, diante da tempestade, começa a encher e às vezes fica prestes a perecer.

Não raro, ao falhar aquele primeiro recurso de nos colocarmos de fora dessa travessia, o ato seguinte é procurar um mestre ou salvador, como narra, aliás, o Evangelho segundo Marcos, quando os discípulos, amedrontados, pedem que a criatura nova que se deu a conhecer determinasse ao vento que cessasse. Se tal método é um bom teste para fé, o mundo da vida terrena, entre sístoles e diástoles, exige mais que comunhão e remissão.

Requer, em verdade, um olhar diante do espelho. E ao fazê-lo seria interessante à frente de si ter a luz da lanterna de Diógenes para evidenciar que, ao mesmo tempo, dentro e fora do Senado, somos todos navegantes e pescadores do mesmo barco.

Isso não é, porém, suficiente. Não basta superar os desafios da conduta pessoal. Impende, além disso, ter presente que não há instituições fortes sem que resistam a provações. As instituições, por conseguinte, não podem empurrar os problemas cuja solução depende de repreensão e responsabilidade.

E assim, ao fazê-lo, evidenciar-se-á maior (em grandeza e imprescindibilidade para o Estado Democrático de Direito) que os seus próprios integrantes.

O projeto da vida social do Brasil contemporâneo depende da confiança nas instituições republicanas que não podem se afogar nas crises nem pular do barco meio das tempestades.

É fundamental, por isso, superar tanto a ladainha das generalizações sobre a corrupção quanto a omissão da indiferença. A jornada de separar o joio do trigo é mesmo pesada, uma vez que é contínua e permanente, a ser arrostada cotidianamente, em cada um de nós e em todas as instituições deste país, as quais podem, às vezes, viver ao lado do abismo, mas não devem ser diante de eventual queda, imobilizadas quer pela impassibilidade quer pelo temor.

O futuro dirá para onde terá apontado no seio do Senado Federal a lanterna de Diógenes.

Luiz Edson Fachin é professor da Faculdade de Direito da UFPR e da PUC/PR.

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