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| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

O transporte aéreo costuma unir pessoas e lugares, mas, paradoxalmente, as empresas aéreas de países latinos têm suporte do governo para manter uma cultura de isolamento. Vejamos, por exemplo, o caso de quem vai ao México. É preciso ter muita atenção às práticas da Viva Aerobus, especialmente ao comprar passagens com cartão internacional. A empresa seleciona todos os itens adicionais sem o cliente perceber, para que o bilhete fique o mais caro possível. Depois, emite o ticket com um valor que pode chegar a ser 20 vezes mais caro que a simples passagem aérea. Uma mala extra selecionada pela empresa durante a compra na internet custa US$ 480, enquanto a média das outras empresas fica em US$ 30. Quando o passageiro, já no aeroporto, questiona por que o valor cobrado pelo ticket foi tão mais caro que a passagem, o atendente diz que se trata de um erro do sistema on-line da empresa, mas no sistema dele consta o valor simples da passagem e qualquer outro beneficio, como uma mala extra, tem de ser pago diretamente no check-in.

As empresas brasileiras também têm sua estratégia de ganhar dinheiro fácil enganando o cliente. Todas têm um sistema diferente de compra de passagens para cada país, a fim de lucrar o máximo nos diferentes mercados. A titulo de exemplo, é fácil encontrar uma passagem dos Estados Unidos para o Brasil quatro vezes mais barata se comprada com cartão de crédito estrangeiro através dos sites de TAM, Gol e Avianca no exterior. Na prática, os estrangeiros (ou brasileiros que moram no exterior) pagam bem menos que os brasileiros que vivem no Brasil pelo mesmo bilhete, pelo mesmo assento, pela mesma viagem.

Os estrangeiros (ou brasileiros que moram no exterior) pagam bem menos que os brasileiros que vivem no Brasil pelo mesmo bilhete

Obviamente aí há o dedo do governo, que tenta de todas as formas estabelecer a cultura de isolamento com objetivo de permanecer no poder e reter o conhecimento no alto escalão, o que facilita e propaga a corrupção. O ônus financeiro para as empresas aéreas no curto período em que as passagens eram tabeladas pelo governo federal ocasionou perdas judiciais e repetição de indébito de ICMS incidente sobre o preço das passagens. Então, o governo, por conveniência, desistiu de controlá-las e esse ônus foi repassado para o consumidor, que tem muita dificuldade de viajar.

Um povo sem contato com outras culturas, mesmo que dentro do próprio país – as passagens do Sul para o Norte são mais caras que as do Brasil para Europa –, alimenta a “cultura do esperto”. O esperto é aquele que quer tirar vantagem em qualquer situação para não gastar tempo em aquisição de conhecimento. Aqueles que têm acesso ao poder acabam explorando os demais espertos e todos vivem sem significado, o que torna difícil o desenvolvimento das inteligências cultural, emocional e espiritual.

A inteligência espiritual está relacionada ao controle do ego, ao discernimento entre o certo e errado, à inspiração, à conexão com Deus, à visão de mundo. Essas capacidades não estão cobertas pela inteligência emocional, que tem um caráter mais individual e está relacionada a tolerância, paciência e motivação. A interligação entre estas inteligências supracitadas está muito relacionada à inteligência cultural, que vem da aprendizagem de outras culturas e comportamentos. E o contato com novas culturas pode fazer com que o esperto mude seus valores, crenças e suposições, em especial quando tem necessidade de mais conhecimento para enfrentar as crises e diminuir os conflitos.

Cristiano Trindade de Angelis, analista do Ministério do Planejamento, é PhD em Estratégia e Gestão de Projetos.
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