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| Foto: Comunicação Volkswagen do Brasil/Divulgação

Trunfo da economia nacional, a indústria automobilística enfrenta sua terceira grande crise. Após um crescimento ininterrupto nas décadas de 1960 e 1970, a primeira crise ocorreu em 1982 e 1983, quando o mercado automotivo caiu 46% do seu pico e ficou estagnado por dez anos. A segunda crise foi entre 2000 e 2001, com uma queda de 35% do mercado e subsequente estagnação de três anos. Após um novo período de dez anos de crescimento, estamos na terceira (e talvez mais intensa) crise, que já dura quatro anos e cuja retração esperada é de 45%. Apesar de uma provável melhora nos próximos dois anos, a indústria automobilística precisará de uma nova década de crescimento da economia para voltar aos patamares de vendas que vimos em 2013, quando éramos o quarto maior país do mundo em comercialização de carros leves e caminhões.

O que parecia ser uma história de sucesso vive, hoje, um período de derrocada. A economia é um fator importante para a crise atual, uma vez que o PIB deve encolher mais de 3% pelo segundo ano consecutivo. O volume de financiamento de veículos vem contraindo, enquanto o custo do financiamento aumentou em linha com a taxa básica de juros, que subiu de 8% a 10% em 2013 para mais de 14% em 2016. A taxa de desemprego disparou de 7% para mais de 11% nesse mesmo período.

A produção de automóveis no Brasil também não é competitiva no contexto global

Soma-se a isso a atração de investimentos com base em premissas equivocadas que ocorreram nos últimos anos: a expectativa de que o mercado local iria crescer indefinidamente. Com incentivos governamentais, a consequência foi a intensa instalação de fábricas de automóveis no Brasil nos últimos anos: o número saltou de 53 em 2011 para 65 em 2015. A capacidade instalada é tão superior à demanda (a utilização da capacidade em 2016 será abaixo de 50%) que seria necessário um inimaginável crescimento do mercado de 10% ao ano nos próximos cinco anos a fim de voltarmos a utilizar 80% da capacidade total.

A produção de automóveis no Brasil também não é competitiva no contexto global. As montadoras, por exemplo, preferem exportar carros para os outros países da América do Sul a partir de outras regiões produtoras, como Ásia, México ou mesmo a Europa. O Peru, nosso vizinho, importou 70% da Ásia e apenas 2% do Brasil em 2014. A razão mais importante para a falta de exportação do Brasil é o custo elevado de se produzir um carro no país. O custo de produção do mesmo carro é 7% a 10% maior no Brasil que nos Estados Unidos – que já são mais caros que a Ásia. Outro entrave é a alta taxa de imposto no valor final do veículo: 30% dos preços de venda do carro estão direta ou indiretamente atrelados aos impostos.

Precisamos, também, aumentar a produtividade da indústria automobilística brasileira, uma das mais baixas em nível mundial. Um operário no Brasil produz em média 33 veículos por ano, enquanto os chineses produzem 54 e os americanos atingem 55 carros. O aumento da produtividade é a chave para aumentar a competitividade nacional e internacional.

Players da indústria automotiva nacional e governo precisam aceitar que os tempos mudaram e, em comparação com o passado, o mercado não irá retornar para o alto índice de utilização nos próximos anos. Se a indústria não repensar completamente seu modelo de negócio no país, o Brasil seguirá com grandes dificuldades para transformar esse setor em plataforma de exportação e estimular demanda doméstica.

Pedro Guimarães é líder da McKinsey na Região Sul. Bjorn Hagemann é sócio da McKinsey.
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