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Joseph Alois Schumpeter, um dos pais da teoria econômica moderna, cunhou a expressão "destruição criativa" para descrever a dinâmica capitalista de produção e consumo. Os produtores estão continuamente introduzindo novos produtos e processos no mercado, dos quais uma boa parte não sobreviverá. Os que sobreviverem, quase que inevitavelmente irão desalojar produtos e processos préexistentes, "destruindo-os" ao se mostrarem mais úteis ou mais desejáveis. O sistema parece, à primeira vista, estúpido e desperdiçador de recursos pois boa parte dos investimentos feitos na produção daquilo que é destruído ou que não teve sucesso é simplesmente perdida.

No entanto, essa suposta ineficácia é apenas aparente pois é exatamente a constante renovação tecnológica e mercadológica que faz do sistema capitalista uma máquina imbatível para a produção de bens e serviços. Todas as vezes que um burocrata estatal resolveu, em qualquer momento da história e em qualquer lugar do mundo, "disciplinar" a produção, "racionalizar" o uso de insumos escassos ou "orientar" os investimentos produtivos, uma dessas coisas aconteceu: ou o desabastecimento, ou a manutenção de padrões de qualidade indescritivelmente baixos por falta de concorrência, ou ainda, a proliferação epidêmica da corrupção, do favoritismo, do mercado negro e de outras patologias do tipo. Os escombros da economia da antiga União Soviética não deixam mentir.

No entanto, o que as empresas ocidentais têm feito nesse cenário de economia globalizada, em que as capacidades produtivas estão sendo sistematicamente transferidas para o Oriente em nome de uma maior eficácia na gestão dos custos, parece estar longe do que Schumpeter definiu como destruição criativa e se aproxima mais de uma "destruição suicida". Em busca de alguns trocados a mais nos custos de produção, as múlti e transnacionais estão transferindo fábricas inteiras para a China e outros países orientais, argumentando sempre com a "racionalidade econômica" dessas decisões e a necessidade de permanecer competitivos quando seus concorrentes estão fazendo o mesmo.

Dessa maneira, a China se transformou quase que instantaneamente na segunda maior economia do mundo (de acordo com o método das PPP, ou seja da Paridade do Poder de Compra, adotado pelo Banco Mundial. E está se transformando, também, em um sorvedouro insaciável de recursos energéticos e de insumos de produção do mundo todo.

Para alguns países, inclusive o Brasil, essa avidez chinesa pelos insumos é vista até como uma bênção pois vem elevando os preços internacionais das commodities; o problema é que, progressivamente, os preços de todos os insumos e produtos, não apenas os exportados, tende a subir e o acesso a essas matérias-primas essenciais a se tornar mais difícil. E daí, que fazer?

O presidente chinês acaba de fazer uma viagem de alto simbolismo e significado ao Oriente Médio, uma vez que a China já é e será ainda mais no futuro próximo, um dos maiores consumidores de óleo daquela região. Os diplomatas e políticos ocidentais, alarmados, começam a entender porque será difícil impor sanções ao Irã ou a qualquer outro país produtor de óleo que os desafie, pois o consumidor alternativo e de goela aberta, está ali mesmo pronto a absorver a produção de óleo de qualquer país produtor. E os americanos, sempre com sua sinapse atrasadíssima quando se trata de entender algo que se passa fora de suas fronteiras, começam também a entender a fragilidade de sua posição geoestratégica. Que fazer quando a China entrar em rota de colisão com os interesses ianques no mundo? Eles, os americanos, já foram capazes no passado de estrangular economicamente o Japão, no período anterior à Segunda Guerra, levando aquele país ao conflito mundial. Podem fazer a mesma coisa com a China, país de grandes reservas próprias de matérias-primas e agora com conexões internacionais valiosas? Claro que não. Acabaram a guerra com o Japão, lançando duas bombas em território japonês e matando 200 mil pessoas. Poderiam – mesmo que quisessem praticar essa infâmia novamente – fazer o mesmo com um país com 1.3 bilhão de habitantes? Certamente não. E uma guerra convencional? Como, se estão atolados no Iraque e no Afeganistão até o pescoço e não têm mais a capacidade estratégica de se envolver em duas guerras ao mesmo tempo em lugares diversos do mundo, o que era sua doutrina estratégica maior?

Resta a opção das sanções econômicas por parte do país mais forte do mundo. Resta mesmo? Crescentemente essa alternativa também deve ser descartada pois, em primeiro lugar, são as próprias empresas americanas que estão se instalando na China e seriam elas que sofreriam as sanções, e em segundo, porque a China é hoje detentora de quase 300 bilhões de dólares de papéis do Tesouro americano, os quais, jogados no mercado financeiro, teriam um efeito cataclísmico na economia mundial.

Qual a solução? Mark Twain certa vez criou um conto em que a trama, envolvendo princesas, príncipes e reis, ficou tão complicada que colocou o ponto final sem tê-la resolvido e incluiu um pós-escrito mais ou menos assim: "Prezado leitor: tentei de todas as formas resolver a trama e não consegui. Portanto, deixo a cada um a tarefa de resolvê-la da forma que melhor entender".

Parafraseando Twain, tentei – paciente leitor – sugerir alguma idéia útil para encaminhar o assunto. Não consegui e, portanto, sugiro-lhe que o faça por conta própria.

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