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O busto de Edward Snowden foi colocado em um parque na cidade de Nova York. Evidentemente, a efígie tinha o objetivo de comparar o ex-analista da NSA – que revelou como a agência de segurança nacional americana usa a internet para a coleta de dados privados de cidadãos ao redor do mundo – a um herói.

Tal qual os bustos da Roma antiga, seus defensores buscaram fazer uma homenagem, que durou pouco, pois horas depois a polícia já havia retirado a representação inerte de Snowden. Mas o que define um herói ou alguém que deve ser homenageado? A internet é realmente democrática ou na verdade também sofre influências de grandes corporações como Google, Facebook e Microsoft, ou do próprio governo americano?

Até pouco tempo atrás, o imaginário coletivo tinha certeza de que a internet era um espaço majoritariamente dos cidadãos comuns e para os cidadãos comuns. Assim como afirma Pierre Levy, um dos grandes estudiosos da cibercultura, a internet é um meio construído e alimentado por pessoas comuns no dia a dia, tendo esse imaginário sido confirmado principalmente a partir de 2010, quando movimentos de protestos de amplitude global começaram a se proliferar em inúmeros países, não somente nos de governos ditatoriais, mas também nas democracias consolidadas como EUA, Espanha e Inglaterra.

Até que ponto realmente existe liberdade na internet?

Porém, os vazamentos de Snowden comprovaram que a amplitude do uso da internet pelo governo americano não parece de certa forma tão democrático, vez que empresas privadas aliadas ao governo estadunidense comprovadamente captaram dados de cidadãos e de dezenas de líderes como Dilma Rousseff e Angela Merkel, o que pareceu ser corriqueiro como instrumento de Estado. Tal prática chegou ao ponto de forçar as líderes de Brasil e Alemanha a apresentarem declarações públicas em direção a Barack Obama, tendo o próprio presidente admitido a existência do programa de espionagem denominado Prism.

De acordo com um artigo do New York Times, o governo americano retirou o grampo da Alemanha e continua a espionar o alto escalão brasileiro, assim como o mexicano – apesar de Alemanha e Brasil terem provocado até mesmo as Nações Unidas, com o objetivo de impulsionar uma resolução que resguarde a soberania nacional contra interferências externas. Tal tentativa não se mostrou efetiva no que tange à aplicação de penalidades.

Até que ponto realmente existe liberdade na internet, se nem presidentes de Estados soberanos deixam de ser espionados? O que restaria, então, para o cidadão comum num ambiente on-line? Dessa forma, é possível acreditar que, se não existissem personagens como Edward Snowden, nem mesmo seria possível ter consciência da amplitude do controle que a internet pode exercer na sociedade.

A relatividade simbólica do busto de Edward Snowden é cada vez mais concreta do que subjetiva, vez que a internet vive um limiar entre um ambiente de fato democrático e um ambiente controlado por Estados e empresas multinacionais.

Antonio Greff de Freitas é professor de História do Colégio Positivo.
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