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A era da inflação e das taxas de juros muito baixas pode estar próxima do fim?
| Foto: Pixabay

Os dados observados na inflação do mês de agosto sugerem alterações nas expectativas sobre os preços para o fim de 2020 e talvez para os próximos anos. Entre os grupos de produtos acompanhados pelo IPCA, em agosto, as altas nos preços dos produtos do grupo “Alimentação e Bebidas” e no grupo “Transporte” exerceram forte pressão de aumento na inflação do mês.

O aumento nos preços destes produtos e o seu efeito sobre a cadeia de produção podem criar um mecanismo de repasse automático a todos os demais preços. É um efeito dominó. E o crescimento na formação de expectativas inflacionárias em alta poderá acelerar novos aumentos nos próximos meses.

A economia brasileira está presa a uma rotina de baixo crescimento da produção, baixa inflação e baixa taxa nos juros dos títulos públicos. No entanto, a forte dinâmica da inflação, observada em agosto, sugere que isto pode estar próximo do fim. Esta evidência não é definitiva e pode estar sujeita a erros.

Diversas expectativas foram formadas sobre o comportamento da economia brasileira e que, ao fim, não aconteceram. Há indícios, interpretados por alguns, de estar ocorrendo uma maior demanda para uma oferta ainda incipiente.

De muitas maneiras, a baixa taxa de juros é um reflexo da fraqueza econômica do país. Portanto, aumentos na inflação e nas taxas de juros seriam um sinal de que a economia brasileira está voltando a ter um crescimento econômico. Ocorre uma pressão sobre a procura, que deverá causar aumento na produção. O aumento da demanda gera inflação.

A persistência de uma política de taxa de juros Selic baixa poderá causar mais danos que benefícios. Para os poupadores que alocam sua riqueza em depósitos de poupança ocorre a continuidade de perdas financeiras, com a perspectiva de um rendimento real em decréscimo. A baixa remuneração da poupança parece, também, estimular muito mais o consumo do que a aplicação financeira.

No mercado de ações, se as taxas de juros mais altas forem causadas pela contenção da inflação em uma situação de crescimento econômico, este processo dinâmico provavelmente seria bem aceito pelos investidores em ações, já que mais crescimento deve se traduzir em mais lucros corporativos.

Entretanto, a demanda deprimida e parcialmente liberada pelo programa social do auxílio emergencial, distribuído por conta da pandemia de coronavírus, e a extensão do programa, com as parcelas de metade do valor inicial, deverão ser finalizados e provavelmente não terão renovação.

O PIB já apresentava um baixo crescimento antes de março e ainda com alta capacidade ociosa. Os resultados recessivos vieram durante o período de pandemia, com desemprego e contenção nos gastos do governo orientando a política econômica, além da ação do Banco Central, executando vigília contra o retorno da inflação.

A recuperação da demanda não tem perspectiva favorável e a oferta não possui quaisquer estímulos setoriais significativos para o crescimento. No longo prazo, os fundamentos econômicos inalterados prevalecem e são forças poderosas.

Agostinho Celso Pascalicchio é doutor em Ciências, mestre em Teoria Econômica pela University of Illinois at Urbana-Champaingn e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie nas áreas de Economia, Economia da Energia e Engenharia Econômica/Finanças.

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