Imagem ilustrativa.| Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
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Já faz mais de um mês desde que quatro crianças saíram de casa, numa quarta-feira de sol de abril de 2023, em Blumenau (SC), para irem à escola, e não puderam voltar para suas casas, jantar com as famílias e, quem sabe, brincar um pouco antes de dormir. Já faz mais de um mês que nos perguntamos todos os dias o porquê desta atrocidade e injustiça e, principalmente, se a escola deixará de ser o ambiente de paz, em que os pais confiam para levarem seus filhos.

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Poucos dias após o incidente, não foi raro que estudiosos manifestassem suas opiniões nas redes sociais, tentando realizar reflexões e atribuindo a responsabilidade do ocorrido em Santa Catarina a grupos específicos de pessoas: ora alguns apontavam as ausências paterna e materna como desencadeadoras de atitudes como estas, ora outros apontavam o bullying como provável culpado pela atitude do rapaz que provocou o ato. Porém, a verdade é que a tentativa de explicação não trará de volta estas quatro vidas, nem mesmo o brilho no olhar dos pais destas crianças.

Manter a comunidade escolar unida pode ser, de fato, uma medida importante no combate à violência escolar.

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E, mais uma vez, a vulnerabilidade da escola é escancarada e sua segurança colocada à prova. Quase como num concílio, gestores pedagógicos e equipes de segurança vagaram pelos corredores das instituições, na tentativa de enxergar em cada canto os locais vulneráveis que necessitassem de reforço na segurança. E, em grande parte delas, foram colocadas cercas elétricas, espalhados botões de emergência e seguranças em sentinela nas entradas. Além disso, os pais, aterrorizados, pediam garantias de que seus filhos estavam seguros, ensinando-os em casa sobre como tentar escapar caso vissem uma situação atípica. O que se pode ver, na realidade, são pessoas tentando proteger a inocência da infância a todo custo.

Tudo o que é possível para manter os locais educacionais seguros de fora para dentro será feito. Porém, olha-se para o interior da escola e lembra-se da professora Elisabete Tenreiro, de 71 anos, que dias antes teve sua vida ceifada dentro do seu ambiente de labuta diário em São Paulo (SP). E então já não se sabe mais de quem estamos nos defendendo.

Em 2019, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) colocou o Brasil como um dos países com maior incidência de violência contra professores. O levantamento, que escutou 250 mil professores, concluiu que 10% das escolas brasileiras registram episódios de ameaça, intimidação ou abuso verbal contra educadores. Situações como esta colocam os profissionais das escolas a discutir se estas instituições deveriam adotar a revista em alunos com detectores de metais. Ou ainda se discute a necessidade de uma averiguação diária nas mochilas.

Procedimentos esses que laceram o art. 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que é claro quando afirma que não é tolerável que se cause a esse grupo de pessoas situações de terror, vexatória ou constrangedora. Para além do estatuto, tratar a criança e o adolescente como suspeitos coloca a escola num contraponto da sua genuína função social: emancipar os seres humanos acadêmica e socialmente. Manter a comunidade escolar unida pode ser, de fato, uma medida importante no combate à violência escolar. A colaboração de todos pode fazer a diferença na segurança, e pode acontecer por meio de assembleias que proporcionem a discussão de ideias de aprimoramento da segurança institucional.

Outro ponto importante seria a vigilância constante por parte dos responsáveis que optam por dar celulares aos seus filhos. É fundamental que realizem periodicamente uma inspeção sobre o que eles consomem na internet e avisem a escola imediatamente quando observarem conteúdos que possam ameaçar a integridade do grupo. Para além dos cuidados diários, a escola pode ser uma aliada da família, oportunizando que a educação dos seus estudantes passe pelo desenvolvimento da saúde emocional e seja um ambiente facilitador no processo de aprender a falar sobre os sentimentos, especialmente nas transições da infância para a puberdade.

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Acima das medidas de segurança e das estratégias pedagógicas e de conscientização, é necessário que nossa sociedade entenda a importância de reconhecimento da educação de forma ampla. Isso significa que os profissionais (professores, pedagogos e funcionários) devem ser valorizados. Quando falo em valorizar, não se trata apenas da questão salarial, mas do respeito pelo seu trabalho, seja por parte do cidadão comum ou dos governantes.

Exemplo de como temos caminhado no sentido contrário à valorização é uma pesquisa, também coordenada pela OCDE e divulgada em 2018, que colocou o Brasil como o país que menos valoriza os professores, em um ranking de 35 nações. No levantamento, 91% das pessoas ouvidas consideraram que o professor é desrespeitado no país. Essa desvalorização se estende para toda a educação, inclusive para os estudantes, que têm uma relação próxima com os profissionais todos os dias. Enquanto não tivermos um projeto de país pautado na educação como transformadora da sociedade, sozinha a comunidade escolar pode continuar vulnerável à insegurança.

Carolina Paschoal é pedagoga e diretora da Escola Pedro Apóstolo.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]