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O recente anúncio do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que evidenciou a estagnação do Brasil na 85.ª posição, revoltou as autoridades do país, já que contraria o discurso oficial e prova o que temos dito há meses: o clientelismo governamental não produz qualquer efeito social como pretende o governo, exceto o de criar um "curral eleitoral" em nível nacional.

Obviamente, a tropa de choque governamental ingeriu com toda força possível perante o Pnud, que, extraoficialmente, decidiu refazer as contas com os dados do IBGE. Dessa forma, a posição do país melhorou: passou para 69.ª, a mesma do Cazaquistão. Estamos bem equiparados, afinal somos semelhantes em praticamente todos os parâmetros. Seria engraçado se não fosse triste esse tipo de manipulação de dados. Ocorre que essa reavaliação não possui qualquer validade, tendo em vista que foi feita apenas de maneira informal, e apenas com o Brasil, não criando parâmetros com todos os países do relatório anual, até mesmo porque os dados considerados válidos para esse relatório são os do Instituto de Estatísticas da Unesco.

O esforço desprendido pelo governo federal em pressionar o Pnud a modificar os dados do Relatório de Desenvolvimento Humano é compreensível se considerarmos o fato de que o relatório desconstrói um dos principais pilares dos governos petistas, cuja plataforma é o desenvolvimento social. Esse índice avalia três aspectos, justamente aqueles dos quais o governo insiste em dizer que vêm melhorando no Brasil: educação, renda e saúde.

A reclamação do governo brasileiro não procede, já que no quesito educação não existe uma pesquisa em que nós tenhamos sido bem colocados nos últimos anos. No fim de 2012 foi publicada uma pesquisa de uma das maiores consultorias do mundo, a Economist Intelligence Unit (EIU), da The Economist, encomendada pela Pearson Education, uma das maiores empresas de produtos educacionais do mundo, com o objetivo de basear seus planos para o lançamento de produtos educacionais nos principais mercados. Essa pesquisa analisou os sistemas educacionais de 40 países e os classificou, em ordem, do melhor ao pior sistema educacional do mundo. O primeiro lugar ficou com a Finlândia; o último, com a Indonésia. O Brasil ficou em 39.º. Portanto, não surpreende o resultado do Relatório de Desenvolvimento Humano de 2012.

No posicionamento do último Programme for International Student Assessment (Pisa), índice adotado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para avaliar as habilidades educacionais dos estudantes em leitura, Matemática e Ciências, e no qual são avaliados 65 países, o Brasil está em 53.º lugar, de acordo com a mais recente avaliação, feita em 2009. De posse desses dados sobre educação em nosso país, não dá para crer que as autoridades em algum momento acreditaram que o IDH poderia melhorar, considerando o peso que a educação possui no cálculo do índice.

O mais danoso efeito do anúncio do IDH 2012 é o fato de tornar público que, diferentemente do que a propaganda oficial do governo alardeia, o programa Bolsa Família, tão arduamente defendido, não tem produzido o impacto desejado nos resultados na educação. Como são óbvios demais, logo irão dizer que os resultados são "manipulados pela mídia golpista", e "pela ONU, controlada pelos EUA". A eterna birra infantil de quem não suporta um choque de realidade. Como sempre afirmo: os números não fazem campanha. Para infelicidade dos políticos.

Sandro Schimitz é especialista do Instituto Millenium.

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