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Como educador, me preocupa a percepção dos jovens de hoje em dia em relação ao futuro: ao futuro individual, às perspectivas de vida futura, profissão, trabalho, dedicação – enfim, à velhice. Os jovens de hoje não têm uma preocupação com o que poderá acontecer amanhã. Vagas de trabalho são escassas e disputadas, mas não vejo animus para a busca das mesmas. Na verdade, a maioria dos jovens as busca, mas não com a intensidade e a vontade de efetivamente consegui-las.

Não quero fazer apologia ao passado, mas com 14 anos eu e muitos jovens de minha idade trabalhavam, seja informalmente ou formalmente. Lembro que fui a um retiro de jovens na igreja e comprei refrigerantes para vender aos participantes. Não tínhamos salgadinhos secos à época; assim, passamos a refrigerante, paçoca de amendoim, pé de moleque etc. Era o que tínhamos, mas hoje, se alguém comentar isso, ”Meu Deus!”, é abuso de menor, é impossível – entre outros adjetivos não publicáveis. Em minha opinião, isso decorre de alguns fatores.

Os jovens de hoje não têm uma preocupação com o que poderá acontecer amanhã

Em primeiro lugar, há facilidade de se viver com os pais, sem preocupação com ter seu próprio espaço. É muito mais fácil continuar a morar com os pais, sem a necessidade de desembolsar dinheiro (e ficar sem ele), mesmo porque se o jovem não trabalha, vive às custas dos pais. Assim ocorre o assistencialismo similar ao Bolsa Família que se instalou nos lares.

Depois, vem a dificuldade de se conseguir algo rentável, ou pelo menos com um valor aceitável pelos jovens. Ganhar menos de um salário mínimo é tarefa difícil, “não dá para nada...”

E, por fim, há o futuro: mesmo que o jovem consiga a vaga, não existe uma garantia de que no futuro o mesmo continuará na mesma empresa, por decisão dele ou da empresa; assim, a perspectiva de futuro não é a melhor.

Mas o pior, em minha opinião, é a falta de garra, de ambição, da noção de que se deve lutar pelo seu futuro e não deixar essa responsabilidade na mão dos pais. Vejo jovens em casa, assistindo à televisão a tarde toda e ruminando ideias maravilhosas de novos aplicativos mágicos que tornarão a família toda milionária – o que, fatalmente, jamais irá ocorrer.

Um desses meus ex-alunos me procurou para ajudá-lo a obter recursos para um projeto de um aplicativo que me pareceu muito interessante, porém seriam necessários R$ 50 mil para seu desenvolvimento. Questionei a ele quanto seria necessário para a comercialização do mesmo, e o aluno não soube dizer. Fiz meus cálculos e cheguei à conclusão de que seriam necessários mais R$ 50 mil. A pergunta que fiz foi “como iremos remunerar este valor ao investidor?” Não obtive resposta, porque ele não pensou em como remunerar o possível investidor desse projeto; ou seja, faltou o principal, mesmo para um aluno formado em Administração em uma universidade de ponta.

Enquanto trabalhava como professor universitário, na área de graduação, fiquei muito desiludido, principalmente devido a atitudes dos alunos em relação à universidade, aos estudos e aos professores. Diria que 90% dos alunos queriam apenas o certificado e jamais o aprendizado. Como exemplo, posso citar o caso de uma aluna que “participava” de uma palestra de cunho obrigatório, tendo passado todo o tempo apenas verificando mensagens de WhatsApp e Facebook, enquanto nosso convidado se esmerava em transmitir uma mensagem de empreendendorismo, de garra, de ambição. Ao chegar perto dessa aluna, perguntou o que ela achava, e a mesma respondeu “eu sei lá...”

Isso me fez ficar mais desiludido e chateado, tanto é que me desliguei da instituição naquele mesmo ano. Hoje, trabalho como professor de pós-graduação com poucas turmas, para que eu possa efetivamente passar algum conhecimento e incentivar os jovens a terem garra, ambição e vontade de vencer.

E o que fazer com esses jovens nem-nem? É uma questão interessante e importante. Entendo que devemos mostrar pelo exemplo o que fazer, e constantemente devemos chacoalhar essa garotada, provocar mesmo e fazer com que repensem suas vidas, tomem atitudes, definam metas e corram atrás. Não é tarefa fácil, mas possível; depende apenas de cada um de nós.

Sergio Alexandre Centa, professor e autor de livros, é mestre em Engenharia de Produção, doutorando em Administração pela Wisconsin International University e colaborador do Instituto RPC.
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