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Felipe Lima

O processo recém-concluído de escolha do novo reitor da UFPR corresponde a momento de alento e esperança para uma das mais caras instituições paranaenses. Em circunstância que contrapôs dois candidatos de raras qualidades pessoais e profissionais – o que infelizmente nem sempre ocorre na política universitária do país –, a vitória coube ao professor Ricardo Marcelo da Fonseca, do setor de Ciências Jurídicas, uma das vitrines da UFPR, desde sua sede-símbolo da Praça Santos Andrade.

Acerca dos méritos do escolhido, não me cinjo apenas à consideração do seu currículo Lattes tão em voga, método de avaliação que parece pretender homenagear nosso curitibano César Lattes, paradoxalmente um desleixado como todos os gênios, e que por certo abominaria o culto da forma imposta pelo gesso das estatísticas burocráticas. As virtudes do novo magnífico, sua dedicação exemplar à docência, à profissão como forma de professar – máxime em tempos tão difíceis para o ensino superior público, laico e republicano –, são conhecidas desde seus tempos de estudante. Quando professor visitante na pós-graduação dirigida pelo professor Luiz Edson Fachin, nos anos de 1990, encontrei um aluno atônito por ter recebido bolsa para a Università degli Studi di Firenze, bem em meio ao semestre letivo daqui, o que o colocava diante da urgente e inadiável escolha. Meu conselho foi contundente: vá, depois o resto a vida resolve. Como o aluno em questão era o recém-escolhido reitor, parece que a vida soube resolver com perfeição.

Os desafios dos novos reitores são da dimensão de dilemas estruturais de um país carente, diverso e desigual

Hoje, com a perspectiva do tempo, é possível imaginar que o soggiorno italiano em muito contribuiu não apenas para o aperfeiçoamento de uma formação jurídica impecável, como permitiu ao jovem bolsista amealhar percepção privilegiada sobre o que deva ser uma universidade moderna e consequente. Quanto à formação propriamente acadêmica, Ricardo trouxe a estofa que une a história ao direito, do historiador do direito, como é comum por lá, mas ainda território a explorar na cultura jurídica brasileira. Porém, seu grande aprendizado foi por certo sobre o espírito acadêmico europeu, como nos projetos Erasmus e Bologna, onde não se é mais aluno ou professor em um só país, privilegiando-se e promovendo-se a internacionalização.

Aqui, em nossas limitadas circunstâncias, os desafios que se projetam aos novos reitores são da dimensão de dilemas estruturais de um país carente, diverso e desigual. Como espaço de inteligência e de racionalidade por excelência, nesse contexto a universidade não pode limitar-se ao ensino e à pesquisa, prezando também sua espacialidade de reflexão política. Por certo, bem melhor se longe de tabus ideológicos e de amarras sectárias, porém sem distanciar-se da realidade além de suas bibliotecas e de seus muros.

Ainda que diante da diminuição de recursos a contrastar com o aumento crucial de responsabilidades que atinge o ensino público de forma geral, resta a perspectiva alvissareira acerca da gestão virtuosa e criativa que Ricardo Marcelo da Fonseca haverá de saber realizar como novo reitor.

Jorge Fontoura, doutor em Direito Internacional, é professor titular do Instituto Rio Branco, do Itamaraty.
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