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Com o zelo atento no equilíbrio das contas públicas, anuncia-se reajuste de R$ 17 no salário mínimo

Presidente que se reelege no pleno exercício do cargo e confunde a campanha com as atividades burocráticas da rotina administrativa, misturou a campanha com a inauguração de obras inacabadas e com o lançamento de promessas e projetos, tal como o modelo Lula – tinha todos os motivos e conveniências para emendar os dois mandatos, simplificar as solenidades da posse sem a troca de faixa de uma das mãos para a outra.

Mas o nosso presidente-reeleito é chegado a uma pantomima e não perderia a oportunidade de uma badalação com foguetório, subida na rampa e discurso para a multidão.

Colhe os frutos da extravagante invenção de um novo governo. Nos retoques do monstrengo ministerial de 34 pastas e secretarias, a continuidade do governo, no bis de mais quatro anos, dispensaria a mixórdia em que se engalfinham as ambições de candidatos ao sacrifício pela pátria com a singela informação sobre os que seriam conservados.

Reduzido o bolo açucarado a meia dúzia de vagas, as substituições selariam os acordos com novos parceiros para a montagem da famosa base de apoio parlamentar, de discutível e rala serventia.

Sem experiência das manhas e truques da arte de governar, que só se aprende na prática ou nos livros dos bons autores, Lula açulou uma briga de ferocidade crescente entre partidos e seus aspirantes a um gabinete, com o glacê da manipulação de verbas para obras e demais serventias.

Já não se sabe mais quando anunciará o governo reformado. E não se andou um passo no sassarico de quase um mês, desde o segundo turno, em 29 de outubro, que envolve a corte em infindáveis articulações. Enquanto o sarau distrai o governo, diverte o elenco e acirra as rixas domésticas, a assistência enoja-se com o charivari palaciano dos atores parlamentares.

Não é só o que acontece. Pouco afeito à maçante agenda administrativa, o governo caiu no fandango da intrigalhada da descarada disputa por fatias do pudim que se espalhou, como praga, pelos três poderes.

A orgia assume proporções de alarme geral. No entreato mais barulhento, a balbúrdia que agita os aeroportos do país, com o atraso de horas que emendam o dia com a noite e a madrugada denuncia a falência do sistema de controle de vôo e expõe uma das peculiaridades da gerência petista. Pois o governo entoa em sua defesa a lista dos aeroportos modernizados na série de reformas milionárias. Aeroporto é vitrine para a exposição de prédios imponentes, com instalações de luxo.

Vaga para controlador de vôo não aguça o interesse da fila de pretendentes ao emprego público. Tampouco o governo tomou conhecimento das deficiências que impõem o sacrifício aos estressados especialistas, submetidos à pressão da responsabilidade pela vida de passageiros e tripulantes.

Podem virar o PT de cabeça para baixo que não cairá um único aspirante às vagas que sobram para a aflição do ministro Waldir Pires, da Defesa, autor da frase do mês: "Melhoramos muito nos últimos cinco anos. Os equipamentos de controle da aviação brasileira são muito bons".

Com a barraca aberta no fim da feira, hora de arrematar as xepas, a correria para levar a cesta recheada excita a azáfama que dá férias ao pudor. Na frente do bloco, como de costume, os parlamentares tramam a jogada do aumento dos 15 subsídios anuais de R$ 12,8 mil para R$ 24,5 mil, o teto dos vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Na verdade, uma artimanha para oficializar a verba indenizatória de R$ 15 mil mensais, disfarce de salário indireto.

O Judiciário entrou no balé: a presidente do STF, ministra Ellen Gracie, propõe um abono de 12% para os 15 integrantes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que também preside. Os procuradores da República, com a boca no trombone, reivindicam abono semelhante.

Com o zelo atento no equilíbrio das contas públicas, o governo anunciou a redução de R$ 375 para R$ 367 no reajuste anual do salário mínimo, previsto para abril.

Um régio aumento de R$ 17 mensais.

Não é nada, não é nada, não é nada mesmo.

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