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O episódio de incorporação das unidades de produção e da marca do centenário grupo paranaense Leão Junior, pela multinacional norte-americana Coca-Cola Company, calculado pelos meios especializados em R$ 230 milhões, combina elementos explicativos da "teoria da firma" capitalista com ingredientes de desenvolvimento regional.

Convém reter que, ao sublinhar a essência da "Economia Empresarial", o pensador inglês John Maynard Keynes, autor da receita intervencionista para a superação das agruras da Grande Depressão mundial dos anos 1930, argumentava que ao trabalhar permanentemente com montantes de numerário, as firmas não teriam outro objetivo senão acabar com mais dinheiro do que quando começaram. Para tanto, funcionam como autênticos núcleos de escolhas estratégicas voltadas à alocação e à multiplicação de haveres monetários.

Em tempos de globalização, a preservação e/ou a ampliação das frações de mercados por parte das grandes corporações exigem o emprego de instrumentos agressivos como a radicalização dos ganhos tecnológicos, a manutenção do poder de determinação de preços, a construção de canais privilegiados com os clientes (por intermédio da diferenciação de produtos), a geração de capacidade ociosa intencional, a otimização das escalas técnicas e financeiras e a minimização de custos de produção e de transação.

A absorção da Leão Junior pela Coca será avaliada inicialmente pela Secretaria de Direito Econômico (SDE), vinculada ao Ministério da Justiça – conforme exigência legal para a venda de companhias com faturamento superior a R$ 400 milhões ou com mais de 20,0% de participação no mercado – e pela Secretaria de Acompanhamento Econômico (SAE), da pasta da Fazenda, que enviarão parecer ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Nesse caso, o domínio de mais de 70% do mercado deve configurar enorme obstáculo à autorização da transação. Com as negociações finalizadas, as empresas deverão aguardar o resultado do julgamento para fundirem as operações, possivelmente ainda no primeiro semestre de 2007.

Se, pelo ângulo microeconômico, a transferência patrimonial da Leão Junior para outro grupo não-paranaense deve representar apenas mais um grande negócio financeiro, respeitando os padrões conceituais da organização industrial, pela ótica da análise locacional, a operação servirá para sacramentar a trajetória de compressão de uma identidade empresarial regional.

Tal processo vem ocorrendo no Paraná desde a década passada, ganhando intensidade com a aquisição do banco Bamerindus pelo conglomerado inglês HSBC, do Banestado pelo Itaú, e das redes de supermercados Demeterco (Mercadorama) e Coletão pelo grupo português Sonae – ensejando a introdução do hipermercado Big –, adquiridas pela norte-americana Wall-Mart em 2006.

No final de 2006, a companhia Providência, fabricante de matérias-primas para fraldas e absorventes, em São José dos Pinhais, foi comprada por um pool de fundos de investimentos nacionais e estrangeiros e, em fevereiro de 2007, a BR Malls absorveu o Shopping Estação Embratel Convention Center, de propriedade da K&G, controlador da empresa O Boticário.

De forma sumária, é correto afirmar que esses eventos reduzem a massa empresarial local e, por extensão, sacrificam potenciais interlocutores para a realização de alianças entre os representantes das instâncias públicas e privadas, atuantes no estado, na direção da montagem das bases de um projeto de desenvolvimento.

Nunca é demais recordar que os estágios mais dinâmicos da economia do estado, particularmente aqueles registrados entre o começo dos anos 1960 e o final dos anos 1970, foram caracterizados pela emissão de sinais claros de articulação entre as autoridades políticas e os representantes empresariais regionais, visando à maximização dos efeitos derivados da formulação de estratégias e a implementação de medidas direcionadas ao alargamento das vantagens competitivas desfrutadas pelo estado para o adensamento de sua matriz de produção.

Tive o privilégio de nascer e crescer na Vila Leão, em Curitiba. O economista entende; o cidadão lamenta a venda da empresa.

Gilmar Mendes Lourenço, economista, é coordenador do Curso de Ciências Econômicas do Centro Universitário FAE Business School.

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