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De fato, nada é por acaso! O lema “pátria educadora” não casava com o então ministro nomeado para levar à frente tamanha empreitada. Fato político gerado, o embate entre interesses e poderes abre o espaço para que o futuro da educação se mostre possível. Renato Janine Ribeiro, discreto, ético, filósofo, escritor, professor universitário e cientista engajado, com visão contextualizada de Brasil potência, de Brasil “cabeça”, chega ao lugar em que talvez nunca tenha pensado em estar, para provocar os educadores e a sociedade brasileira a (re)aprender a sonhar sob a batuta de sua ação de homem público que dialoga para fazer acontecer, em lugar de fingir dialogar para enganar.

Janine entende e discute a educação em sua complexidade. Acredito que nos apresentará um novo paradigma para a educação

Seu livro Política para não ser idiota, escrito em coautoria com Mario Sergio Cortella e publicado em 2010, chama a atenção pelo estímulo ao protagonismo necessário para frutificar as ideias e as ações na política enquanto exercício da cidadania. Portanto, sua proatividade é uma marca de não dependência político-partidária. Indignação é seu motor para a sabedoria que tem permeado seus escritos e participações acadêmicas, de quem sabe fazer política científica. Incrível como não tem respostas prontas, embora tenha ideias fundamentadas. Cada diálogo é uma aula; cada resposta, uma lição de argumentação equilibrada, como cabe a um bom filósofo de nosso tempo. Estudioso da política, não podia ter como melhor exemplo sua postura democrática, reconhecida nos inúmeros cargos e funções que vem exercendo na ciência brasileira: foi presidente da Comissão de Cooperação Internacional da USP (1991-94) e membro do Conselho Deliberativo do CNPq (1993-97), recebeu o Prêmio Jabuti em 2001, foi condecorado com a Ordem Nacional do Mérito Científico em 1998 e com a Ordem de Rio Branco em 2009. Também respondeu pela Diretoria de Avaliação da Capes (2004-2008). Professor de Ética, vai além do certo e do errado, procura argumentos concretos de por que determinado fato é certo ou errado. Essas são algumas das características que fazem dessa indicação uma esperança.

Exceto alguns de seus alvos de crítica fundamentada, ainda não vi, nem ouvi, algum arauto da discórdia desqualificar a nomeação de Renato Janine. Polêmico sem gostar de polemizar, ele o faz frente a fatos político-sociais que colocam em xeque suas convicções, como, por exemplo, temas afetos aos direitos humanos. Nesse sentido, vislumbro boas brigas em prol da “boa política”. Se vai dar certo? O tempo dirá. Janine entende e discute a educação em sua complexidade. Acredito que nos apresentará um novo paradigma para a educação. Educação pública é direito humano fundamental e necessita de investimento maciço de recursos financeiros bem aplicados, formação qualificada e metas, bem como muito diálogo e poder de argumentação. Será um desafio, pois não interessa ao Congresso que aí está o avanço da educação pública de qualidade, quando parcela significativa dele está comprometida com a concessão da educação privada. E, além de tudo, povo educado muda o comportamento e qualifica a nação. O novo ministro tem as condições para fazê-lo. Cabe à sociedade brasileira e à comunidade científica apoiá-lo e, para quem tem fé, dizer amém!

Araci Asinelli da Luz, doutora em Educação, é professora do Setor de Educação da UFPR e secretária regional da SBPC no Paraná.
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