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A queda do Muro de Berlim e a prova final do fracasso socialista

A queda do Muro provou: o socialismo fracassou, igualou todos na miséria e não resistiu ao choque com a realidade " Berlim, 1989. (Foto: Raphaël Thiémard/Wikimedia Commons)

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No início de novembro de 1989, minha esposa e eu estávamos na Alemanha e decidimos dar uma olhadinha naquele muro que dividia Berlim e naquela cerca que separava as duas Alemanhas. Que visão triste, eu até diria macabra! O concreto, frio e cinzento, simbolizava muito mais do que uma barreira física: era um monumento à divisão, ao medo e à repressão.

Nas semanas que antecederam nossa visita, os noticiários foram dominados por relatos de fuga, tensão e esperança. Telejornais, entrevistas e documentários mostravam, quase em tempo real, o êxodo desesperado de alemães orientais rumo ao lado ocidental.

Muitos arriscavam tudo para cruzar a fronteira, então muito menos controlada, da Hungria, passar pela Áustria e, enfim, chegar à tão sonhada Alemanha "rica". Cada reportagem parecia cena de um filme de suspense.

Lembremos que entre 1961 e 1989, famílias inteiras fugiam no meio da noite, escondidas em porta-malas, cavando túneis secretos ou tentando qualquer truque para enganar a vigilância implacável do regime comunista.

Para os que tentavam sair de forma "legal", o governo da Alemanha Oriental tinha uma carta na manga – e não era nada sutil. A permissão de viagem vinha com uma condição cruel: um parente era obrigado a ficar para trás, como uma espécie de refém involuntário, garantindo que o viajante não tivesse ideias de não voltar.

Essa prática desumana transformava reencontros familiares em despedidas angustiantes e deixava uma marca profunda na vida daqueles que ousavam sonhar com a liberdade.

Então, no dia 10 de novembro de 1989, a notícia que mudaria a história: "O muro caiu!". Em questão de horas, milhares de alemães orientais atravessavam livremente para o lado ocidental, alguns incrédulos, outros aos prantos. Foi uma explosão de emoção!

Jovens subiam no muro com martelos, picaretas e até colheres para arrancar pedaços daquele símbolo da Guerra Fria. Berlim se transformou em um grande festival de libertação, com gente brindando com champanhe nas ruas, abraçando desconhecidos e até dançando sobre as ruínas do que antes era um instrumento de segregação.

Mas, até hoje, algumas perguntas me assombram: por que, após sete décadas tentando provar que o socialismo era a solução ideal, a maior sociedade socialista do mundo implodiu sem sequer se defender? Como um império que outrora parecia sólido como o aço ruiu de maneira tão silenciosa, tão indolor?

Uma resposta possível é simples e direta: o socialismo nunca cumpriu o que prometeu.

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No papel, a ideia de igualdade absoluta parecia sedutora, mas, na prática, criou sociedades onde todos eram igualmente pobres, exceto, claro, os líderes do partido, que desfrutavam de privilégios dignos da nobreza do século XVIII

E mais intrigante ainda: por que até hoje existem pessoas que insistem em defender um regime e uma ideologia que desapareceram sem luta, como se tivessem reconhecido sua própria inviabilidade?

Eventualmente a resposta pode estar no ressentimento. Criou-se ao longo das décadas um ódio tão grande ao sucesso alheio que algumas pessoas preferem sofrer perdas desde que isso também signifique o prejuízo daqueles que estão em melhor situação.

O famoso "se eu não posso ter, que ninguém possa". Paradoxalmente, muitos que atacam o capitalismo e o liberalismo sabem que, sob outro sistema econômico, sua própria situação seria ainda pior.

Mas mesmo assim, defendem a implantação do socialismo porque não suportam ver a ascensão da classe média e, principalmente, dos ricos. No fundo, me parece não ser um anseio por justiça, mas por vingança.

Durante grande parte do século passado, acreditou-se que haviam sido descobertas fórmulas mágicas para distribuir riqueza de forma justa. O que se viu nos países socialistas, no entanto, foi apenas uma distribuição equitativa da miséria. A tão proclamada igualdade veio, mas na forma de filas intermináveis por pão e censura para quem ousasse reclamar.

Já passou da hora de superarmos essa ilusão. O debate entre capitalismo e socialismo, que dominou o século XX, tende a se tornar uma relíquia ideológica, tão irrelevante para as futuras gerações quanto as acaloradas discussões teológicas entre católicos e protestantes entre os séculos XV e XVII sobre qual seria a verdadeira fé cristã.

Isso não quer dizer que todo país capitalista seja sinônimo de sucesso. Há exemplos claros de fracasso, mas o problema não é o capitalismo em si, e sim a falta de liberalismo.

O que realmente impulsiona a prosperidade é um sistema onde cada indivíduo tenha espaço para desenvolver seu potencial e, de quebra, contribuir para o progresso coletivo. O papel do Estado não é entregar o sucesso de bandeja, mas sim garantir que todos tenham liberdade para construir o próprio caminho.

A lição que ficou da queda do Muro de Berlim? Nenhuma utopia sobrevive ao confronto com a realidade. O concreto caiu, e com ele desmoronou um ideal que, por mais bem-intencionado que fosse, nunca conseguiu vencer sua maior fraqueza: a natureza humana.

William Horstmann é engenheiro, ex-executivo e consultor.

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