Não bastassem as nada desprezíveis restrições tributárias, cambiais, financeiras, burocráticas e em pesquisa e desenvolvimento (P&D), proliferam avaliações quanto à permanente impulsão do custo Brasil pelo ângulo físico, tornando inconcebíveis quaisquer novas desculpas para adiamentos de remoção dos estrangulamentos constatados.

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Um exemplo acabado desse tipo de constrangimento repousa na antes privilegiada área hidrelétrica. Mesmo com o país ostentando margens competitivas em termos de custos de produção e de segurança geopolítica, a crise financeira do Estado, a falta de negociação e definição de critérios de precificação e os impasses advindos da legislação ambiental encarregaram-se de engavetar projetos de utilização do enorme potencial hídrico oferecido, que poderia triplicar a capacidade instalada de energia hidráulica, atualmente estimada em 80 mil MW, segundo levantamentos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Conforme a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de 41 usinas hidrelétricas em construção no Brasil, 33 vem sendo bloqueadas por limitações impostas por organismos ambientais, comprometendo a geração de quase 6,0 mil MW. Mas, por enquanto, o que existe, de acordo com o Ministério das Minas e Energia, é um projeto de lei encaminhado ao Congresso Nacional, prevendo a reserva de áreas para construção de usinas e de linhas de transmissão de energia elétrica.

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A identificação desse tipo de limitação explica, no atual embate eleitoral, a formação de expectativas e a cobrança de propostas suficientemente consistentes, por parte dos agentes econômicos, capazes de contemplar itens de um choque de desenvolvimento – contido, por exemplo, no Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, no segundo qüinqüênio dos anos 1950 – ou de um bloco planejado de inversões, no estilo da administração Geisel, no período 1974–1978. Em paralelo, delineia-se o repúdio ao uso de remédios milagrosos, no tipo do brutal e disforme crescimento verificado entre 1968 e 1973, dirigidos à garantia da preservação dos grupos dominantes e responsáveis pela agudização dos constrangimentos seculares registrados pela nação brasileira.

A grande indagação reside em como promover uma espécie de arranque de um programa de vultosos investimentos infra-estruturais no país. Na falta de viabilização de alternativas privadas, ao longo das últimas duas décadas, parece consensual a premência de revitalização do enorme peso fiscal e financeiro do Estado, o que inclui, no repertório de medidas, a redução das taxas de juros, a reversão da sobrevalorização cambial e a continuidade do alongamento do perfil da dívida mobiliária do governo, características marcantes da maioria dos países emergentes que lograram crescimento sustentado nas décadas da globalização.

Todavia, nessa linha, o que não se deve perder de vista é a natureza imperiosa de reestruturação dos dispêndios do governo, em um ambiente não permissivo à ampliação da carga de impostos, mediante o reordenamento de prioridades, com o sacrifício de parcela dos recursos destinados tradicionalmente às rubricas correntes, em benefício dos itens econômicos e sociais, incluindo as iniciativas de combate à pobreza.

Igualmente vital seria a redefinição do pacto federativo, especificamente das receitas e responsabilidades entre as três esferas públicas (União, estados e municípios). Lembre-se de que o ímpeto fiscal do Estado brasileiro impõe níveis de arrecadação superiores à terça parte do PIB e de apropriação de mais da metade do crédito bancário, a custos de 8,0% do PIB na forma de juros, o que impõe a repressão dos investimentos em infra-estrutura e o engessamento dos orçamentos públicos.

Aliás, a versão 2006 do ranking de competitividade global, realizada pelo International Institute for Management Development (IMD), indica que o Brasil situou-se no 52.º entre 61 nações acompanhadas, contra o 51.º em 2005, atrás de emergentes como China (19.º), Índia (29.º) e Coréia do Sul (38.º). Segundo o IMD, a atuação (ou não) do governo brasileiro estaria contribuindo em 20% para a colocação desconfortável.

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Seria ocioso sublinhar que a alocação de poupança pública em infra-estrutura provocaria pronunciadas complementariedades com a canalização de recursos para incremento do ativo fixo pelo setor privado, ao multiplicar a eficiência dos fatores de produção, por meio da redução de custos e da elevação da produtividade. Como em uma espécie de circulo virtuoso, esse processo estimularia a realização de novos investimentos e a geração de empregos, sendo o diferencial entre retorno social e privado reparado com a concessão de incentivos fiscais e creditícios.

Gilmar Mendes Lourenço é economista e coordenador do Curso de Ciências Econômicas da UniFAE – Centro. Universitário – FAE Business School.