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A passagem do Evangelho de hoje começa com uma anotação, na aparência insignificante: "Seis dias após". Seis dias após o quê? Ele não diz. E porque Jesus toma consigo somente três discípulos? Por que subiu a uma montanha?

É interessante observar, especialmente no Evangelho de Mateus, que Jesus, ao fazer ou dizer alguma coisa muito importante, sempre sobe a um monte: a última tentação acontece num monte; as bem-aventuranças são pronunciadas numa montanha; num monte são as multiplicados os pães, e, no fim do Evangelho, quando os discípulos encontram o Ressuscitado e são enviados para o mundo inteiro, encontram-se na "montanha que lhes fora indicada" (Cf. Mt 28, 16).

Por que tanta insistência com a montanha? Não será por certo, para nos dizer que Jesus e os discípulos, de vez em quando, saíam para respirar as frescas brisas... Quem no Antigo Testamento, subia à montanha? Era Moisés. Foi no alto da montanha que ele recebeu a revelação de Deus, que depois transmitiu ao povo. Se lermos o Êxodo 24 veremos que também dele se diz que "subiu após seis dias", que não foi sozinho, mas que tomou consigo dois discípulos e que foi envolto por uma nuvem. Na montanha sua face também foi transfigurada pela luz da glória divina.

Está claro agora o que Mateus nos quer dizer? Quer nos apresentar Jesus como o novo Moisés, como aquele que dá ao novo povo, representado pelos três discípulos, a nova lei, a revelação definitiva de Deus. O semblante resplandecente e as vestes luminosas, indicam, conforme o simbolismo do tempo, a presença de Deus na pessoa de Jesus. O mesmo sentido tem a nuvem luminosa que envolve a todos com sua sombra.

Vós lembrais que no livro do Êxodo se fala de uma nuvem luminosa que protegia o povo de Israel no deserto. Era o sinal de Deus que acompanhava o seu povo. Quando Moisés recebeu a Lei, também a montanha foi envolvida numa nuvem e também ali indicava a presença de Deus. A voz do céu é o modo de apresentar o que Deus pensa de um determinado acontecimento. No momento do batismo, já aconteceu a mesma coisa e tinham sido pronunciadas as mesmas palavras: "Este é o meu Filho predileto" (Mt 3, 17 b); aqui é acrescentada a exortação "escutai-o".

Quem são Moisés e Elias? O primeiro é aquele que deu a Lei ao povo, o outro é considerado como o primeiro dos profetas Para os israelitas esses dois personagens representa todo o Antigo Testamento. Todo o Antigo Testamento fala com Jesus, isto é, orienta para Jesus, adquire um sentido por Jesus. É ele a explicação e a realização de toda a Lei e de todos os profetas.

Pedro, como de costume não entende o significado do que está acontecendo. Ele ainda julga que Jesus é somente um grande personagem, um homem do mesmo nível que Moisés e Elias, por isso sugere que sejam construídas três tendas iguais. Mas os três personagens já não podem continuar juntos, Jesus se destaca nitidamente dos outros, é absolutamente superior. Neste ponto Deus intervém para corrigir a falsa interpretação de Pedro: Jesus não é somente um grande legislador, ou um simples profeta, é o "Filho predileto" do Pai. É a Ele e somente a Ele que os discípulos devem dar ouvidos.

Dom Moacyr José Vitti, CSS Arcebispo Metropolitano de Curitiba.

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