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Passado o carnaval, mais de 90 mil jovens voltam às universidades de Curitiba na próxima segunda-feira, 5 de março. Os que voltaram antes estavam, digamos, em um pré-carnaval para satisfazer calendários do Ministério da Educação. Para valer, agora seremos 90 mil alunos, 5 mil funcionários e 6 mil professores universitários. Isso faz de Curitiba uma cidade bem acima da média na educação nacional. No Brasil, apenas 6% da população tem nível superior; e na região metropolitana de Curitiba, mais de 15%.

Não deve haver pudor em negar: somos a elite. E da elite, o que se espera, é um elevado grau de consciência dos problemas do mundo, e comportamentos que sirvam de referência para o conjunto da sociedade.

Já podemos calcular algumas contribuições que os alunos das mais de 40 faculdades trarão para a cidade até o próximo carnaval: eles colocarão 23 mil carros circulando diariamente na cidade, deixando atrás (ou acima) de si mais de 12 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2), o principal gás poluente causador do efeito estufa. Ou seja, cada universitário, individualmente, terá "contribuído" com 300 toneladas de CO2 ao arrumar as malas para as próximas férias.

É muita coisa. Fomos conversar com esses alunos de cinco universidades para saber o porquê. Quase 50% dos estudantes de Curitiba usam carro para ir à universidade – em alguns casos, chega a 70%. E não são nos campi mais afastados, mas entre aqueles em regiões mais centrais ou bem servidas de transporte coletivo – usado por 40% dos estudantes. Os poucos que restam, caminham. A situação entre os professores (exemplos) para esses alunos é ainda pior: mais de 80% vão de carro.

Estágios, empregos, afazeres, tempo de deslocamento? Que nada. Mais de 70% dos alunos vão de casa para a faculdade, e da faculdade para casa. Quanto ao tempo de deslocamento, a diferença percebida (declarada pelo aluno) entre aqueles que usam carro e ônibus não ultrapassa dez minutos.

Isso tudo em uma cidade conhecida pela excelência em seu sistema de transportes e com mais de 120 km de ciclovias. Claro, há saturação do sistema em horas de pico e as ciclovias são de passeio – mas, sinceramente, isso não afeta tanto assim os universitários se notarmos onde estão seus campi, quase todos distribuídos em regiões centrais e bem servidas de transporte coletivo.

É uma escolha por comodidade, e essa comodidade tem um custo. E o valor de face parece desanimador para aqueles que gostariam de ver os universitários serem a referência do comportamento urbano consciente. Considerando consumo de combustível de um carro de pequenos porte para trajeto de 10 km (ida e volta de casa à faculdade), cada aluno gastaria R$ 4,00 por dia, em média, contra os R$ 3,60 subsidiados no transporte coletivo. A diferença são duas balas. Pagam a comodidade.

Mas o pesquisador carioca Ronir Luiz calculou todos os gastos de um carro por mês, incluindo combustível, mecânicos, seguro, IPVA, estacionamentos e depreciação no valor de venda. Se considerarmos que nossos alunos vão à faculdade com um carro popular, essa comodidade custaria não os R$ 4,00 diários, e sim R$ 26,00.

Balanço mensal de cada universitário que usa carro em seus deslocamentos: tira do bolso R$ 570 e coloca na atmosfera 25 kg de dióxido de carbono. Até o próximo carnaval, universitários e universidades poderiam ver que sua real contribuição para a sociedade não se constrói no salão, mas com o bloco na rua.

Fábio Duarte é professor do Mestrado em Gestão Urbana da PUCPR.

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