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O presidente-reeleito cozinhou em fogo brando, durante dois meses e meio, a mexida no ministério, apelidada de reforma, até o limite da impaciência dos partidos aliados e a inquietação no PT – silenciado com o puxão de orelhas aplicado aos dirigentes que bateram à porta do seu gabinete para reclamar uma fatia mais suculenta no rateio do bolo do Poder.

Não tinha nenhum motivo para apressar-se e todas as razões para esticar a corda até que as ambições serenassem. A amaldiçoada praga da reeleição – que tanto tem contribuído para a desmoralização do Congresso e a desagregação dos partidos – dispensa a reforma ministerial clássica, que assinala a troca de mão do governo. É a continuidade que se estende à confirmação de ministros, secretários e demais penduricalhos da equipe. Como exceção, os acertos para acomodar os novos hóspedes admitidos para o reforço da base de apoio político e parlamentar.

Lula esticou o elástico pelas suas razões personalíssimas e às manhas do jogo. O segundo mandato caiu-lhe no gosto como um presente do eleitorado, dos 61 milhões de eleitores satisfeitos com os benefícios recebidos no quatriênio do maior governo de todos os tempos. A roça do voto regada em quatro campanhas consolidou a liderança do líder sindical. E empolgou milhões no arrastão facilitado pelo desastroso desempenho da oposição. Seria insensato incensar as especulações sobre o terceiro mandato, que freqüenta algumas cabeças de muita imaginação e pouco siso: a reação dos adversários centrada na acusação de golpismo atearia fogo no país.

De bobo o Lula não tem nada. O desmentido oportuno veio embrulhado na advertência: não se brinca com a democracia. O que não quer dizer que, conforme o andar da carruagem, a tentação de mais quatro anos não volte à ronda das ambições.

Por ora, Lula não quer ser molestado no desfrute do presente da grande vitória, com vagares para fazer o que adora: viajar em vôos domésticos ou internacionais; discursar para qualquer platéia que estimule a sua facilidade no improviso, com o enfeite de metáforas e o tempero da linguagem solta. Gosta de visitar obras e inaugurar qualquer coisa, seja um poste ou uma parede de tijolo. Lá uma vez ou outra, distrai-se presidindo reuniões ministeriais, com governadores, prefeitos, quando fala mais do que ouve.

O rumor das ambições das dezenas de candidatos e das centenas de cupinchas que se engalfinham na luta por um naco do governo começou a atrapalhar o sossego para a fruição da licença-prêmio.

Lula não encontrou resistências para a meia-sola do maior ministério de todos os tempos. Quatorze dos ministros foram oficialmente confirmados. Outro lote dos escolhidos aguarda a comunicação presidencial.

No bloco dos novatos, poucas novidades. Nenhum nome que mereça manchete. Contemplado com cinco pastas, o PMDB agradece no sorriso que resplende na face eufórica do presidente do partido, deputado Michel Temer. Os aliados passam pelo balcão para apanhar o embrulho.

Clima desanuviado na corte, com os resmungos surdos na minoria oposicionista.

Um pingo de aborrecimento na mancha da efusão peemedebista: o ilustre desconhecido, próximo ministro da Agricultura, miliardário ruralista e deputado Odílio Balbinotti (PMDB-PR) está sendo investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito instaurado a pedido do procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, por falsidade ideológica.

Claro, não vai dar em nada. Lula deve parar pouco em Brasília. E menos ainda no Palácio do Planalto.

Villas-Bôas Corrêa é analista político.

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