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Dilma não completou três meses de governo, mas o clima é de fim de festa. Escrevo este artigo antes das manifestações marcadas para o dia 15. Espero que sejam pacíficas e não contaminadas por black blocs da vida e grupos ideológicos interessados em algemar os sentimentos da sociedade e inibir protestos democráticos legítimos. Aconteça o que acontecer, amigo leitor, ninguém conseguirá silenciar o grito de indignação do brasileiro honrado e trabalhador, mas profundamente revoltado. O governo Dilma Rousseff está agonizando. Isolada na sua arrogância, no desgoverno provocado por sua incompetência, acuada pelos resultados evidentes do maior estelionato eleitoral da nossa história, desmentida pela força dos fatos e dos números, a presidente da República só tem uma saída: a renúncia.

O governo tentará reconstruir pontes, oferecer supostos salva-vidas para os náufragos da Lava Jato. O Supremo Tribunal Federal, felizmente, é outro departamento. Não está submetido às conveniências políticas do Executivo. Além disso, acordos funcionam quando o governante tem um mínimo de credibilidade e sustentação. Dilma desceu ao fundo do poço. E Lula, o criador, escorrega com ela. O ex-presidente, astuto e rápido no jogo, tenta negar a paternidade. Agora é tarde. Dilma não cairá sozinha. E Lula sabe disso. Assombra-lhe, sobretudo, o avanço das delações premiadas. Só isso explica seu irresponsável apelo ao “exército do Stédile”. Lula está tenso por uma razão muito simples: a mentira escancarou, a punição se aproxima, a estrela apagou.

Vivemos um momento difícil e perigoso. Os assaltantes do dinheiro público e os estrategistas do projeto de perpetuação no poder, fortemente atingidos pela solidez das nossas instituições democráticas, não soltarão o osso com facilidade. O clima não está legal. O país está radicalizado graças à luta de classes tupiniquim do “nós e eles”. Há riscos no horizonte. Mas precisamos acreditar no Brasil e na capacidade de recuperação da nossa democracia. A sociedade amadureceu. O exercício da cidadania rompeu as amarras dos marqueteiros da mentira. E a imprensa, o velho e bom jornalismo, mostrou sua relevância para a sobrevivência da democracia e das liberdades.

O país está radicalizado graças à luta de classes tupiniquim do “nós e eles”

A relação de Lula e do PT com a democracia é um pouco estranha. Nada como o recurso a um banco de dados para revisitar pensamentos reveladores. Em entrevista à Folha de S.Paulo, em 2009, o ex-presidente afirmou que o papel da imprensa não é o de fiscalizar, e sim informar. “Não acho que o papel da imprensa é fiscalizar. É informar. Para ser fiscal tem o Tribunal de Contas da União, a Corregedoria-Geral da República, tem um monte de coisas. A imprensa tem de ser o grande órgão informador da opinião pública”. Lula questionava um dos pilares da democracia: o papel fiscalizador da imprensa. Tinha seus motivos, sem dúvida. Suas declarações encerravam uma contradição com seu suposto e alardeado respeito à liberdade de imprensa. Fiscalizar faz parte integrante do processo informativo. E, como Lula não é tonto, o falso disjuntivo (informação versus fiscalização) tinha uma finalidade precisa: limitar o papel fiscalizador dos jornais e desacreditá-lo. Não conseguiu. Felizmente.

Os bons ventos da economia mundial nos mandatos de Lula, seu bom senso, carisma e talento de encantador de serpentes garantiram-lhe um céu de brigadeiro. Mas seu desejo de perpetuação no poder, direto ou por delegação temporária, não combinava com escrúpulos éticos. Os bons indicadores da economia, então, não impediram o Brasil de trombar com as consequências funestas de um populismo que encolheu a oposição, estimulou o cinismo, encurralou algumas togas e tentou aprisionar as redações.

Afinal, qual é a perversidade que deve ser creditada na conta dessa imprensa tão questionada por Lula? A denúncia de recorrentes atos de corrupção que nasceram como cogumelos à sombra da cumplicidade presidencial? Ou será que a irritação de Lula é provocada pelo desnudamento de seu papel na crise que assola o Brasil? A sustentação do governo de coalizão, aético e sem limites, deu no que deu.

Carlos Alberto Di Franco é jornalista.
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