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Se você pensa que a nação vai dar um salto de qualidade durante os próximos anos, está contaminado pelas ilusões de Papai Noel, época em que Ele sai da toca para entreter a humanidade.

Nada muda da noite para o dia, nem os homens que habitam a superfície, nem as nações que a dividem, nem os peixes que povoam os mares, nem as aves que enfeitam os ares.

O Brasil nasceu e permaneceu sob o signo da pobreza. Esse o mal que crucialmente nos atinge e rege os destinos da terra que Cabral descobriu no dia 22 de abril, dois meses depois do carnaval.

O resto é decorrência ou conseqüência, como quiserem. "Em casa que falta o pão, todos clamam e ninguém tem razão", diz Ataulfo Alves. O Brasil é uma casa desse padrão na qual, além do pão, faltam o queijo e a goiabada. Deus nos brindou com a feitura do mundo, mas não nos poupou dos problemas atinentes. Mais de 80 anos de janela, nada me foi dado a ver, afora as palavras que ora me conduzem a uma realidade que não tem a menor dúvida. Pobreza franciscana que nos discrimina, lá fora, nos porões do terceiro mundo e aqui dentro com uma qualidade de vida das mais rudes do planeta.

Começando de casa, por que não temos metrô, que descongestiona o tráfego, calçamento adequado, que previne os tropeços e as quedas, fiação elétrica subterrânea, eliminando postes e fios que enfeiam nossos panoramas e incitam os roubos, as gambiarras e os gatos que castigam com a morte? Por que temos os guardadores de carros, a um real pela vigilância que simulam, meninos que se exibem com bolas nos espaços em que o semáforo permite, mendigos e crianças de rua, dormindo ou pedindo nas calçadas da indigência?

Por que temos os Amigos do Hospital de Clínicas, os auxílios ao Evangélico, ao oncológico Erasto Gaertner e as centenas de entidades que proliferam em auxílios aos doentes, idosos e necessitados? Porque somos pobres, adaptados a uma existência de acordo com nossa miséria. Por que o governo Lula instituiu o Bolsa-Família, instrumento que o reelegeu com a explosão de 58 milhões de votos? Pela nossa indigência. Medida radicalmente criticada pela Comissão de Justiça e Paz, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, pelo tanto que vicia, sem resolver. Na opinião de dom Aldo Pagotto, além de não garantir a independência dos beneficiados, o programa tem um caráter individual que leva à acomodação.

Por que o assentamento dos sem-terra, entidade de foros oficiais criando e fomentando favelas rurais, prossegue invicto? Por que o metrô de São Paulo não mais se estende, o do Rio é uma parcela e os de Fortaleza e Recife não saem do papel? Incúria governamental? Não. Falta de recursos, de grana, de massari.

Por que o SUS paga 2 reais e 40 centavos por consulta médica e sete de diária; o Incor, parâmetro nacional de cirurgia cardíaca, acumula uma dívida de 245 milhões, em dez anos; mais de cem hospitais fecharam suas portas e a dengue ressurge com força total? Porque nos falta o vil metal para a saúde e sem ele não temos educação, não temos paz, não temos nada.

Por que do outro lado do Atlântico os trens avançam a 300 km por hora e aqui, e agora, nossa malha ferroviária em pleno sucateamento resfolega seus raros transportes de carga a menos de 30 km de velocidade útil em bitola estreita e trajetos sinuosos sobre dormentes carunchados e maltratados. Nas rodovias do primeiro mundo os carros fluem a 150 km por hora, enquanto na nossa Transamazônica, famosa "carreteira da selva," do milagre de Garrastazu Medici, atolam carros e caminhões que se arriscam a um roteiro onde tudo pode acontecer? Por que temos a maior tributação do planeta? Porque o governo, ‘liso e leso,’ aliado aos proventos milionários de ministros, senadores, deputados e membros do Judiciário, vem tirá-lo do nosso bolso cada vez mais espoliado.

E que dizer de nossas Forças Armadas, ora sob a chefia do paisano Waldir Pires, homem errado no lugar errado, ignorante das sete partes em que se divide o fuzil, modelo 1908, arma que aprendíamos a manejar na caserna do Tiro 19. Seu Pires já bateu uma continência, apresentou armas, ou atendeu algum comando de ordem unida? Não sendo do ramo, desconhece a diferença entre tática e estratégia e as características de uma fragata, corveta, destróier ou cruzador. Sabe o Waldir que abraçado ao seu canhão morre o artilheiro, ou quantos homens compõem um Batalhão de Caçadores e um Grupo de Artilharia de Dorso? Não? Então se afaste do vexame, diga adeus e vá embora. Esse equívoco ora exagerado não é, todavia, raro em nossos costumes, ao respaldo de uma cultura que não premia o melhor, mas o derrotado das urnas que sobra no estoque dos partidos, como alguém que deve ser compensado independentemente do apito que toca.

Sem anotar culpas e culpados, o propósito é apresentarmo-nos como decorrência de nossa pobreza, razão da violência, roubos, seqüestros, corrupção, em cada canto um perigo, em cada olhar uma ameaça, em cada mão um gatilho. Uma seara que não acaba por encanto. Quem nasceu pobre e atribulado por uma colonização agredida por franceses e holandeses, sofreu a tirania dos ingleses, não pode competir com os que somam vários séculos de civilização.

Na encruzilhada dos caminhos, possa o presidente exercer com mais autoridade e dedicação, afastar-se dos marimbondos de fogo, diminuir a demagogia, poupar-se do ridículo, promessas, e piadas, não mentir e não posar de calção na praia.

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