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Nações do poderoso G-8 e líderes regionais em ascensão, como China, Índia e Brasil, protagonizam neste início de milênio uma corrida pela diversificação de suas fontes de energia. Não-renovável e de mercado instável, o petróleo já é incapaz de alimentar economias dinâmicas e modernas. E, sem energia, governantes estão impedidos de promover desenvolvimento com inclusão social e qualidade de vida.

Neste mês, foi a vez de o maior consumidor de petróleo do planeta, os Estados Unidos, se curvar à relevância da carência energética na agenda mundial. George W. Bush esteve no Brasil para assinar um memorando de cooperação tecnológica entre os dois países para a produção de biocombustíveis, como o álcool e o biodiesel. O acordo revela o interesse norte-americano em assegurar o aquecimento de sua economia independentemente do turbulento Oriente Médio.

Pela perspectiva da diversificação das fontes de energia, no entanto, estamos em condição privilegiada no mundo. Além dos biocombustíveis, temos em abundância outra fonte limpa de desenvolvimento: a água. Neste dia 22, celebra-se o Dia Mundial da Água, e o Brasil está em débito com este recurso natural renovável ao qual devemos parcela significativa do nosso progresso.

As usinas hidrelétricas respondem pela geração de 74,6% da energia elétrica consumida no país. Sem água, sua matéria-prima insubstituível, elas deixariam o Brasil no escuro. Somos os terceiros maiores produtores de energia hidrelétrica do planeta, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), atrás somente do Canadá e da China. E em Foz do Iguaçu, no Rio Paraná, na fronteira com o Paraguai, temos a maior usina em geração de energia do mundo, a Itaipu Binacional.

Sozinha, a Itaipu abasteceu 20% do mercado brasileiro em 2006, porcentual que será superado neste ano com a entrada em operação de suas últimas duas unidades geradoras, cada uma delas com potência instalada para iluminar uma cidade com dois milhões de habitantes. Como contrapartida, em reconhecimento ao papel da água em suas atividades, a empresa investe em ações de responsabilidade socioambiental que extrapolam as margens do reservatório e abrangem 29 municípios da bacia hidrográfica do Paraná III.

Lançamos o programa Cultivando Água Boa, que promove iniciativas para garantir a chegada ao reservatório de água limpa, sem sedimentos, o que retarda o processo de assoreamento e aumenta a vida útil da própria usina. É um bom negócio para a Itaipu e, sobretudo, para o meio ambiente, que ameaça emperrar o crescimento do país a partir do seu esgotamento.

Engana-se quem enxerga nas restrições da legislação ambiental um obstáculo para o avanço da economia. A exploração de recursos naturais como a água exige critérios e prudência, de modo a estimular a sustentabilidade, e não o colapso. Um exemplo de aproveitamento seguro, responsável e não-poluente são as usinas hidrelétricas.

O tema das celebrações do Dia Mundial da Água proposto pelas Nações Unidas neste ano, "Lidar com a escassez de água", serve de advertência a órgãos de governo gestores dos recursos hídricos e consumidores. No Brasil, embora detenhamos 12% das reservas de água doce do mundo, ainda assim estamos sujeitos ao desabastecimento, principalmente devido à contaminação dos rios pelo esgoto sem tratamento apropriado.

Somente 33,5% dos domicílios brasileiros dispõem de esgotamento sanitário. Além disso, convivemos com a distância intransponível entre a parcela majoritária das nossas reservas hídricas, 74% delas concentradas na Amazônia, e os grandes centros consumidores, no Centro-Sul.

Precisamos, logo, de medidas ousadas e abrangentes no sentido de afastar o risco da escassez de água. A Itaipu cumpre o papel ao garantir a saúde do seu reservatório. E o Brasil tem de estar na vanguarda mundial desta luta por água de qualidade e em volume suficiente para o abastecimento. A água, fonte de vida saudável e energia, deve ser protagonista de um novo modelo de desenvolvimento baseado na sustentabilidade.

Não temos alternativas. Sem água, não há energia, qualidade de vida, quanto menos um ambiente propício para o desenvolvimento.

Jorge Samek, engenheiro agrônomo, é diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional.

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