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É visível a impressão de que a condução dos negócios da República constitui um feudo loteado entre partidos, alguns sem expressão eleitoral e escassa representatividade

Está na consciência de todos que o Brasil vive grave crise de valores e, diante disso, é imperiosa a necessidade de pronta reação da sociedade organizada. Atualmente, as referências éticas e morais que dirigentes públicos deveriam por obrigação passar às novas gerações, na maioria dos casos, demonstram pouca ou nenhuma vinculação com o discurso oficial da governabilidade.

Infelizmente, o exemplo mais gritante oferecido à população, embora o mau gosto e o repúdio generalizado que desperta, continua sendo "o toma lá dá cá", espécie de chancela ao que existe de mais condenável na política, de modo especial numa época em que a administração pública, qualquer que seja sua esfera, deveria pautar-se por rigorosa austeridade na aplicação dos recursos do erário.

O dado mais recente dessa crônica abusiva deu-se na substituição do antigo ministro do Turismo por um novo, indicado pelo mesmo potentado político que nomeara o anterior. Nesse, como em inúmeros outros casos, não houve preocupação em exigir do indicado conhecimento técnico ou experiência, mesmo superficial, na área que passaria a gerir, com tantos empresários e profissionais do setor dotados de comprovada qualidade técnica.

É visível a impressão de que a condução dos negócios da República constitui um feudo loteado entre partidos, alguns sem expressão eleitoral e escassa representatividade, mas habilíssimos na arte de barganhar seus votos na conquista de ministérios e estatais detentores de polpudos orçamentos.

Portanto, é bem-vinda a reação da sociedade que desponta com vigor, tendo em vista a perpetuação de um círculo vicioso daninho ao país, que há décadas transformou em balcão de negócios a atividade político-partidária, estabelecendo com incrível atrevimento o valor de face dos votos das respectivas bancadas no Congresso.

Essa prática espúria remonta à época dos coronéis que dominavam a política sertaneja e manipulavam eleitores mediante a instituição do "voto de cabresto". Ou seja, o próprio coronel decidia pelo eleitor em que candidato se deveria votar e, para evitar transtornos, ele mesmo marcava o nome do vitorioso na cédula. Pois esse mesmo sistema absurdo persiste no rateio dos cargos de primeiro escalão, sem levar em conta a competência, uma vez que se resgatem as faturas dos partidos que integram a aliança.

O exemplo objetivo das distorções que assolam a administração federal, realidade que a população está cansada de observar na experiência diária, foi demonstrado no recente estudo feito pelo economista Marcos Fernandes da Silva, da Fundação Getulio Vargas (FGV), com base nas investigações realizadas pela Controladoria-Geral da União (CGU), Tribunal de Contas da União (TCU) e Polícia Federal (PF).

Segundo o estudo, entre 2002 e 2008 a corrupção desviou da economia brasileira a formidável cifra de R$ 40 bilhões, atingindo também repasses federais a estados e municípios. Isso equivale a R$ 6 bilhões por ano e no total corresponde ao Produto Interno Bruto (PIB) da Bolívia.

Recursos que deixaram de ser aplicados na manutenção de serviços públicos de qualidade em saúde, educação e segurança, entre outros.

Caso esse dinheiro não tivesse sumido pelo ralo, apenas para se ter uma ideia de sua dimensão, o governo poderia reduzir pela metade o número de moradias (25 milhões) que não contam com serviços de saneamento básico.

O impacto recorrente dessa anomalia, que especialistas batizaram de economia da corrupção, ilumina a causa primordial dos baixos teores de atração que os jovens sentem pela atividade política. Infelizmente os sucessivos exemplos de compadrio e favorecimentos afugentam da vida pública as novas gerações que, decerto, representadas por quadros de excelência intelectual, ajudariam a torná-la mais legítima.

Há uma crise de valores. Começa a haver uma crise de esperança. Ainda há tempo para mudar!

Edson Ramon é presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP).

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