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A presidente, sem o circo lulista, deve realmente mostrar a que veio, que tem luz e ideias próprias, valorizar a condição das mulheres, investir muito em infraestrutura, não ceder a chantagens políticas e, especialmente, não coadunar com a corrupção

Em vários artigos, nos quais tive a oportunidade de manifestar minha opinião, especialmente no período pré-eleitoral e antes mesmo de sua unção como candidata do Partido dos Trabalhadores, critiquei a ex-ministra Dilma Rouseff por alguns de seus posicionamentos, inclusive por admitir ser apenas e tão somente uma espécie de fantoche do então presidente Lula. Agora tenho de admitir que algumas de suas atitudes levam-me à reflexão, assim como outras me causam tanta preocupação como antes. Não que eu concorde que seu programa de desenvolvimento econômico e social seja melhor do que o do seu então concorrente, José Serra. Porém entendo que, talvez por influência do ex-presidente Lula, não só a ministra, mas muitos de seus companheiros de ministérios, inclusive vários que continuam ministros, agiam de maneira a refletir os pensamentos e a moral do ex-presidente, que não era nada boa. Agora, como presidente do Brasil e podendo ser ela mesma, Dilma dá demonstrações contrárias daquelas que tinha quando ministra. Bom para ela e bom para o Brasil.

Neste início de governo, ela tem demonstrado um estilo mais sóbrio, discreto, de poucas palavras, sem aquela vontade de exibir-se ou dar entrevistas sobre qualquer assunto, bem diferente do boquirroto ex-presidente, o "pai de Deus" que tudo sabe, que manipulou dados sobre a reforma agrária e tem a solução para as crises mundiais, basta consultá-lo. Com gestos mais comedidos, Dilma tem se mostrado prudente e, aparentemente, disposta a dar um novo rumo para o país, embora a política econômica continue a mesma – em janeiro, tivemos a maior taxa de juros ao consumidor dos últimos sete meses, com 6,85% e agora mesmo o Copom eleva as taxas para 11,75%. Por outro lado ela também continua a fazer concessões políticas incompreensíveis para os cidadãos comuns, como manter José Sarney como presidente do Senado, permanecer refém de partidos do "vale-tudo", etc. No fim de fevereiro, sinalizou que pretende nomear ex-presidentes do país, inclusive o atual senador Fernando Collor de Mello, de triste lembrança, como embaixadores especiais para missões importantes no exterior. Especialmente o seu padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, para atuar junto a outros países. Segundo ela, a experiência se revelou frutífera nos EUA, país que designa ex-presidentes, como Bill Clinton e Jimmy Carter, para relações externas. Ora, comparar Clinton e Carter a Collor e a Lula só pode ser por mau humor. A presidente tem demonstrado coragem ao afirmar que pretende mobilizar esforços para as sempre comentadas e nunca realizadas reformas da previdência, política e tributária, essenciais para o desenvolvimento do país. Mostra também comprometimento de não querer patrocinar ou endossar regimes opressores e a não ser tão antiamericanista como era o seu antecessor. Porém ao mesmo tempo cede espaço a figuras como o ex-deputado José Dirceu, José Genoino e outros de sua turma que ameaçam a encurralar com suas ideias e práticas pouco recomendáveis e destrutivas ao país.

A presidente, sem o circo lulista, deve realmente mostrar a que veio, que tem luz e ideias próprias, valorizar a condição das mulheres, investir muito em infraestrutura, não ceder a chantagens políticas e, especialmente, não coadunar com a corrupção. Desafios não lhe faltam e não lhe faltarão. Acho que, por exemplo, ela deve dar provas de sua diferença com Lula e extraditar o terrorista italiano Battisti. Não entendo por que manter esse assassino aqui, nós já temos nossos próprios assassinos, vide o poderoso Fernandinho Beira-Mar.

E se Lula pretendia colocá-la no cargo com a intenção de voltar depois de quatro anos, nos braços do povo, como o Getúlio Vargas dos novos tempos, inclusive torcendo para que o governo Dilma não desse certo, o tiro pode sair pela culatra. Embora sempre se deva ter ponderação ao analisar a estratégia petista de ocupação do poder, se continuar como neste início de governo, com uma orientação gerencial e afastar as tentações de várias lideranças desse partido, a presidente terá condições de se reeleger, calando a boca de muitos que não acreditavam nela, eu inclusive, e afundar de vez a pretensão de Lula voltar a ocupar o Palácio do Planalto.

Cláudio Slaviero, ex-presidente da Associação Comercial do Paraná, é autor do livro A vergonha nossa de cada dia.

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