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A PM está aprendendo que precisa se civilizar para saber lidar com cidadania, e também precisa ser mais inteligentemente militar para lidar com a minoria vândala. Já está claro que os vândalos agem ou na dianteira ou na traseira das passeatas, mas a PM não consegue isolá-los e prendê-los como deveria. Alguns policiais à paisana, com insígnia, algemas e coragem, têm conseguido efetuar prisões como manda o Código Penal: "Todo policial deve e todo cidadão pode efetuar a prisão em flagrante delito". Se a PM continuar abobalhada e apenas agindo da forma militar tradicional, em formações rígidas atrás de escudos, os cidadãos irão assumindo essa tarefa.

Sim, os cidadãos estão se militarizando, reprimindo, com o coro "sem partido", os aproveitadores esquerdoides com suas bandeiras, coniventes com o sistema que as passeatas estão rejeitando. Faz lembrar que a palavra "militar" vem do Latim milites, milhares.

Em São Paulo, guardas foram salvos pelos cidadãos, depois de encurralados e quase linchados. Faz lembrar que as palavras "cidadania" e "civilização" vêm da mesma palavra latina civitas, cidade, do tempo em que as tribos deixaram o nomadismo para viver em cidades, adotando costumes e modos menos brutos, mais conviventes e solidários.

Os políticos estão aprendendo que, com receio do amanhã, podem fazer hoje o que ontem diziam ser impossível fazer. Assim, evidenciam a hipocrisia política que as massas não toleram mais.

As pessoas, nas passeatas, estão aprendendo que vale a pena protestar, neste país onde conquistamos nas ruas a Anistia, as Diretas, a redemocratização, mas fomos logrados pela corrupção e pelos privilégios do monstro estatal e seus tentáculos sindicais.

Os políticos, estupefatos, procuram explicações, tentando enxergar longe enquanto bastaria olhar para si mesmos, sentados sobre o próprio rabo dos privilégios, do nepotismo, das contas fechadas, do populismo eleitoral, da improdutividade e da impunidade.

O presidente interino da Câmara concedeu receber representantes das massas para conversar, ainda ignorante de que não há lideranças nem há o que conversar, pois o que as massas querem são mudanças efetivas e reais em todo o sistema.

Lenin ruminava no exílio, escrevendo o jornal Iskra ("Faísca"), na esperança de ser a faísca que um dia incendiaria as massas russas. Com a Rússia perdendo a Primeira Guerra Mundial e a fome ceifando mais vidas no país que nas trincheiras, milhares de soldados desertaram, voltando para casa com seus fuzis, e se juntaram aos operários, criando a aliança operário-camponesa que derrubaria o czarismo. Quando Lenin chegou a Moscou, espantou-se diante dos milhares que foram recebê-lo na ferrovia, e que depois seriam traídos por um comunismo que democratizou a repressão e a miséria para quase todos, concentrando poder e privilégios para poucos. As massas precisam aprender que serão traídas sempre, se não exigirem canais efetivos de participação e vigilância. As passeatas cansarão, e os ratos e raposas voltarão a sair de suas tocas para disputar eleições, assumir poderes e cultivar os velhos vícios.

Agora é a hora de exigir, para um futuro melhor, reformas fundamentais: política, judiciária, tributária, educacional, institucional de alto a baixo. Pois o que as passeatas estão dizendo, com todos os seus profusos e difusos slogans, é que o Brasil que produz e quer melhorar cansou do Brasil que só quer se aproveitar.

Domingos Pellegrini, é escritor e colunista da Gazeta do Povo.

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