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A história da humanidade segue seu rumo, com avanços e retrocessos, em direção à eficiência e à justiça. O papel de políticos conservadores é dificultar essa marcha, como fizeram adiando a abolição da escravatura. O papel dos políticos progressistas é apressar a marcha rumo ao futuro. Mas a história faz curvas, independentemente da vontade dos políticos.

Nos últimos anos, o avanço técnico forçou uma curva com o surgimento do computador, da inteligência artificial, da robótica e das comunicações instantâneas. Outros movimentos fizeram o mundo ficar global na economia e a sociedade corporativizada na defesa de interesses individuais. Mas, apesar da clareza das mudanças, muitos ainda não percebem a curva feita pela história e continuam prisioneiros da ideia do avanço em uma linha reta que já não existe.

Muitos dos que se dizem progressistas continuam presos ao Estado burocrático, caro e divorciado do povo

Não entendem, por exemplo, que o Estado gigante defendido pela esquerda soviética e social-democrata ficou ineficiente na gestão e insensível às necessidades do povo. A curva da história fez o Estado gigante ser um dinossauro político. Apesar disso, muitos dos que se dizem progressistas continuam presos ao Estado burocrático, caro e divorciado do povo. Não entendem que a justiça social e o bem-estar só podem ser construídos sobre economia eficiente.

O desafio dos que buscam justiça social é desfazer a apartação, que separa de um lado os incluídos e de outro os excluídos. O caminho para isso está na educação de qualidade igual para todos, com o filho do pobre estudando na mesma escola do filho do rico. Mas os que não perceberam a curva da história esquecem os analfabetos. Defendem a ilusão de universidade para todos, sem lutar pela educação básica de qualidade igual para todos e por uma reforma universitária para que os formandos estejam preparados para o dinâmico mundo do conhecimento em marcha.

A curva na história, que reduziu drasticamente a taxa de natalidade e aumentou a expectativa de vida, exige reforma no sistema previdenciário. Mas os progressistas amarrados nostalgicamente às ideias do passado, no lugar propostas que construam sustentabilidade para as próximas gerações, preferem ficar contra as reformas.

Rodrigo Constantino: A traição dos intelectuais (publicado em 28 de agosto de 2018)

Leia também: O mundo ao revés está realizado (artigo de Andrea Cionci, publicado em 13 de fevereiro de 2019)

O socialismo soviético acabou porque o Partido Comunista não entendeu a curva na história, ficou prisioneiro de ideias que se divorciaram da realidade na segunda metade do século 20. O mesmo ocorre com a velha e tradicional esquerda brasileira, que não percebeu a revolução tecnológica e social do mundo global e informatizado, com o agravante da forte atração oportunista pelos votos dos eleitores seduzidos com falsas promessas.

Nesse ponto, esquerda e direita se unem, caindo na tentação populista, por oportunismo eleitoral ou por falta de conhecimento e de percepção da história e suas curvas. Foram muitos os erros que levaram os democrata-progressistas brasileiros a sofrerem a derrota na última eleição, mas o maior foi não perceber a curva da história nas últimas décadas no mundo.

Cristovam Buarque é professor emérito da Universidade de Brasília.
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