“Viver e não ter a vergonha de ser feliz (...) ninguém quer a morte, só saúde e sorte”, cantava Gonzaguinha. Peterson Ricardo de Oliveira, 14 anos, morreu em 9 de março, cinco dias após entrar em coma depois de ter sido espancado por colegas da escola onde estudava em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo. E por que foi espancado? Peterson sofria preconceito de outros estudantes porque era filho de um casal gay.

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Eu sou casado há 25 anos com outro homem. Temos três filhos, de 9, 11 e 14 anos. Fico imaginando, horrorizado, que isso poderia acontecer conosco, por mais que conversemos com eles sobre como lidar com preconceito e discriminação, e por mais que as equipes das escolas deles sejam bastante sensibilizadas e dialoguem conosco.

Um filho é morto só porque os pais são gays. Onde está o respeito às diferenças em nosso país?

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Quem está ensinando a matar quem tem uma configuração familiar diferente?

Disse Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender”. Quem está ensinando a matar quem tem uma configuração familiar diferente? Quem está pregando o ódio contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais? Quem nega que há homofobia nas escolas e na sociedade, e não quer que a violência e a discriminação homofóbica seja criminalizada? Até quando vamos ter de aguentar isso? E em nome do quê? Da intolerância cultural e religiosa? A morte de Peterson parece uma espécie de extremismo islâmico – só faltou apedrejar.

Será que a escola está cumprindo seu papel, estabelecido por lei, de promover a “igualdade de condições para o acesso e permanência na escola” e o “respeito à liberdade e apreço à tolerância”?

Mandela terminou aquela frase dizendo “e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”. É preciso ensinar, no lar, na escola, na igreja, onde quer que seja, a competência cultural do respeito ao ser diferente. Em breve a Declaração Universal dos Direitos Humanos completará 70 anos, e ainda não se aprendeu que “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. A educação está falhando: crianças mataram outra criança apenas porque a família dela era diferente. A vida humana parece não ter mais valor. Até onde vai o ódio?

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Toni Reis, pós-doutorando em Educação, é secretário de Educação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT).