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Muito se fala sobre a burocracia e sobre como ela dificulta as atividades produtivas do país. Eu gostaria de falar sobre um outro tipo de burocracia que é igualmente nociva, mas que pouco se fala: a burocracia na educação.

As pessoas pensam que ser professor é apenas preparar aulas, avaliações e aplicá-las com os alunos. A verdade é que não é tão simples assim. Existe todo um labirinto burocrático a ser cumprido pela escola e pelos professores. Um deles é o malfadado livro de chamada, o qual é tão somente um registro formal das atividades desenvolvidas, notas e frequências dos alunos. Ele poderia ser simples, certo? Uma folha com o número de faltas e notas a ser entregue ao fim do bimestre, certo? Errado; nada é simples nesse país. Ele é um livro complicado de preencher, com dezenas de campos a serem preenchidos com informações repetidas. Considerando que um professor tem um livro por turma e que em média um professor deve dar aulas para pelo menos umas 12 turmas diferentes, arrisco dizer que passamos mais tempo preenchendo livros de chamada que preparando aula para os alunos – o objetivo final da educação. E, pasmem, caso algum professor incauto cometa algum erro no preenchimento, ainda pode ser obrigado a refazer o livro inteiro!

Passamos mais tempo preenchendo livros de chamada que preparando aula para os alunos

Existe ainda a burocracia dos famigerados Planos Político-Pedagógicos. Segundo a pedagogia progressista (marxista), esse seria um documento autônomo da escola no qual se estabeleceria suas concepções educacionais, suas práticas e características. Na prática, porém, o que vemos na maioria das escolas são PPPs mal escritos que geralmente plagiam a legislação educacional e documentos norteadores como os Parâmetros Curriculares Nacionais e Diretrizes Curriculares. Sinceramente, não culpo as escolas por fazer isso, visto que esse documento, após todos os demorados e complexos trâmites, acaba esquecido na biblioteca. As escolas públicas fazem parte de um mesmo sistema de ensino, o qual deveria seguir as mesmas concepções de ensino expressas em documentos formulados pelos gestores educacionais. Então, para que escrever um plano que tão somente vai repetir as mesmas concepções expressas na legislação e em documentos formulados pelos próprios gestores? No fim das contas, é apenas burocracia que tem efeito nulo na aprendizagem dos alunos – que é o que realmente importa.

Sabem o que mais me incomoda em tudo isso? Se um aluno chegar ao ensino médio semialfabetizado, não há problema nenhum. Ninguém na escola sofre uma sanção ou é, ao menos, questionado por isso. Agora, se o livro de chamada não estiver preenchido sem rasuras e o PPP não for entregue no prazo, aí prepare-se para uma grande dor de cabeça.

Fabricio Maoski, historiador, psicólogo e mestre em Psicologia pela UFPR, atua na rede estadual de educação desde 2006.
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