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Cada criança não tem “seu tempo”: desenvolvimento infantil tem etapas
| Foto: Unsplash

Muitos de nós já ouvimos a frase “cada criança tem seu tempo” para justificar qualquer atraso em seu neurodesenvolvimento. O argumento pode colocar os pais em uma zona de conforto em relação aos marcos do desenvolvimento infantil, uma série de etapas definidas pelas organizações de saúde que devem acontecer em momentos específicos da primeira infância, como sustentar a cabeça, levar as mãos à boca e se sentar sem apoio são alguns marcos motores da primeira infância e o não cumprimento de algumas dessas etapas, pode ser indício de que algo possa estar errado.

Acompanhar de perto o desenvolvimento da criança, principalmente nos seus dois primeiros anos de vida, é fundamental. Até a sexta semana, é característico do bebê começar a olhar mais fixamente para quem interage com ele. Aos quatro meses, ele deve estar com o tônus muscular mais fortalecido, conseguindo levantar o tronco e a cabeça quando colocado de bruços. A partir dos nove meses, é esperado que o bebê já consiga imitar movimentos mais complexos, como bater palminhas e dar tchau. Em seu segundo ano de vida, a criança já deve ser capaz de ficar em pé com os pés juntos, olhos abertos e conseguir chutar uma bola.

Ainda que nos dois primeiros dois anos de vida, o sistema nervoso esteja suscetível a algumas adversidades, é também o período em que possui uma enorme capacidade de o cérebro se adaptar, o que chamamos de neuroplasticidade, e adotar novos caminhos. Já por volta dos quatros anos, é o momento em que as crianças respondem melhor aos cuidados adequados, quando necessários, por isso é essencial que sejam encaminhadas a um neuropediatra para consulta especializada, ao mínimo sinal de atraso. É preciso que os pais tenham um olhar atento e alerta, caso a criança não cumpra os marcos de desenvolvimento infantil.

Também é relevante reforçar que, apesar de cada criança ter um ritmo diferente, precisamos considerar que existe um intervalo esperado para cada evolução e qualquer tempo diferente do estipulado deve ser visto como um sinal de alerta. Muitos dos atrasos cognitivos e motores são em decorrência de doenças genéticas que precisam de um cuidado rápido e precoce, demandando assim uma atenção dos cuidadores para que reconheçam os primeiros sinais e do auxílio médico para que uma avaliação minuciosa seja realizada.

Alguns sinais sutis antes dos 12 meses de vida podem levantar a suspeita de diversos diagnósticos que afetam o desenvolvimento neurológico e motor. No caso da deficiência de AADC, a criança pode não conseguir levantar e controlar a cabeça, andar e engatinhar. Já no caso da DMD, ela pode ter atraso para iniciar a engatinhar, pegar e segurar objetos, ficar de pé e falar. A partir dos dois anos de idade pode ficar mais perceptível a dificuldade para sentar, pular e subir escadas. Quanto antes identificamos qualquer sinal de que algo pode estar errado, mais chance de agir rápido e estabelecer um cuidado multidisciplinar integrado, isso potencializa o manejo da doença e garante mais qualidade de vida ao paciente.

Portanto, precisamos incentivar a conscientização sobre os marcos de desenvolvimento infantil. Somente dessa forma conseguiremos conscientizar mais pais e mães, assim como aumentarmos o compromisso da classe médica, de modo a garantir que nenhuma criança deixe de ser avaliada adequadamente. Ter este zelo é uma forma de garantir que as crianças tenham independência e autonomia. Afinal, aguardar que o tempo recupere o atraso da criança não é aceitável e provavelmente irá acarretar prejuízos futuros.

Ellen Balielo Manfrim é neuropediatra e neurofisiologista.

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