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As estatísticas sobre a economia nacional não são importantes apenas para mostrar a situação do país em relação ao crescimento econômico e ao bem-estar social. Elas são importantes, também, para os agentes privados (pessoas, profissionais e empresas) fazerem seu planejamento. As estatísticas dão base aos cenários, às estratégias e às decisões. No caso das empresas, as decisões sobre investimentos, produção, emprego, preços e planos de negócios dependem diretamente das informações econômicas e sociais.

Mas o Brasil anda com a credibilidade de suas estatísticas arranhada. Qualquer ministro da Fazenda gosta do papel de incentivador e de animador em relação à economia – como o próprio Mantega declarou no Congresso Nacional. Ocorre que, ao exagerar seu papel de animador de auditório e de tanto fazer previsões furadas, o governo está deixando os agentes descrentes nos dados e nas informações oficiais divulgadas.

Um exemplo tem ocorrido com a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), sobre o qual o governo vem errando sistematicamente. O ministro Mantega falava que o PIB de 2012 iria crescer 4% e, encerrado o exercício, o crescimento foi de pífio 0,9%, diferença simplesmente astronômica em se tratando de aumento do produto. Para um PIB na casa dos R$ 4,4 trilhões, o erro de 3,1 pontos porcentuais na previsão significa R$ 136 bilhões a menos de produto e renda.

Uma diferença dessa magnitude distorce tudo: a arrecadação tributária, os investimentos públicos e privados, o comércio exterior, a geração de emprego e a melhoria do bem-estar social. Quem tomou decisões de investimentos e negócios para 2013 com base nas previsões do ministro pode ter amargado prejuízos, senão a própria falência. Exemplo: um empresário que comprou uma nova máquina, para aumentar a produção e atender à expansão do consumo, pode ter deixado a máquina parada por falta de vendas.

A própria presidente Dilma também entrou na onda. Recentemente, ela disse que o cálculo do PIB de 2012 seria revisado e o crescimento não teria sido de 0,9%, mas de 1,5%. O IBGE fez a revisão e a taxa foi mudada para 1% – portanto, longe do 1,5% que a presidente divulgara. Se o governo não acerta nem em relação aos indicadores passados, a credibilidade dos indicadores projetados para os anos seguintes vai por água abaixo.

Como os agentes privados precisam dos dados passados e das previsões oficiais futuras para orientar suas decisões e negócios, ao não poder confiar no que o governo diz, muitas decisões são tomadas no escuro. Juntando a essa confusão as manipulações feitas na contabilidade fiscal, tem-se um quadro preocupante de descrença. Larry Summers, ex-ministro do Tesouro no governo Bill Clinton, fez uma afirmação que deveria ser colocada na porta de cada ministério, a começar pelo gabinete da presidente: "A confiança é a forma mais barata de estímulo".

Os analistas e as instituições internacionais vêm dizendo que, se o Brasil tiver sua nota no rating global rebaixada, isso será consequência da incompetência do país. Portanto, será inócuo as autoridades públicas e os políticos do governo fazerem o que sempre fazem quando alguém critica seus equívocos: desdenhar os críticos e repetir a velha mania de, em vez de examinar o conteúdo das análises, lançar impropérios contra os autores.

Aliás, se estivessem em um concurso de previsões, o governo estaria perdendo feio para os críticos, pois estes vêm acertando muito e o governo vem errando bastante.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

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