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Da mais antiga cidade que se tem conhecimento, Çatal Hüyük (6000 a.C.), na Turquia, às cidades planejadas do século 20, é da peculiaridade do lugar e da cultura de seus habitantes que se apresentam como particulares e únicas as demandas que delinearão sua estrutura urbana.

O que em uma cidade pode ser considerado um fator limitador em outra poderá trazer a solução para uma demanda, ou seja, diferentes cidades apresentam distintas medidas às suas constituições. Entretanto, seja nas cidades de pequeno porte, nas médias, ou nas metrópoles, a gestão urbana não deve se isolar, mas buscar integração com regiões lindeiras, o que certamente evitará expansões pouco adequadas à ordenação do território. Independentemente da particularidade de cada caso, há questões de fundamental importância a considerar no âmbito da constituição e gerência urbana.

O passado se referencia no registro do fato, seja bom ou mau, que persistirá na memória contanto seja marcante; o presente atua como um intermédio efêmero, se esvai na medida da experiência, mas deixa o registro, e é dessa base que se estrutura a referência ao planejamento, seja para negar ou afirmar a precedência; é fundamental sua constante e periódica reflexão acompanhada e autocrítica.

Há de se entender que as cidades são formadas, ao longo de suas existências, por camadas de cultura, tal qual um palimpsesto, onde se raspa o visível para a impressão de uma nova matéria, que traça o novo sobre a base onde se encontram vestígios do passado, e há de se considerá-lo.

A criação de novas obras e espaços em uma cidade, com o devido cuidado à memória urbana, é bem vinda e deve acontecer, mas deve ser acompanhada de diálogo com os cidadãos, com a sociedade, e desse sinal de demanda será possível criar pelas mãos do arquiteto e urbanista. A decisão de trabalhar a cidade pode ter sua pertinência, mas a eleição da futura obra, seja no âmbito do edifício ou do espaço urbano, deve partir de um projeto de qualidade, o que pode ocorrer de várias formas; contudo, a eleição de um projeto de arquitetura por concurso público inevitavelmente é o procedimento de excelência.

Embora seja recomendado pela ONU, o concurso para obras publicas é uma prática pouco habitual nas cidades brasileiras, e talvez essa seja uma das causas da ausência de parâmetros com boas obras e a origem da necessidade de repensarmos os espaços das cidades. A arquitetura não deve estacionar no impacto imagético, no deslumbre do novo, sem comedimento ou referenciada a um passado deslocado. Não aludimos ao passado no vestuário ou no design de automóveis, que têm prazo estético efêmero; por que queremos aludir a tempos remotos, distantes de nosso tempo, executando pseudoedifícios neoclássicos?

Que a cidade do futuro seja apenas uma cidade inclusiva, sem bloqueios para o sol e para as classes sociais, a exemplo de uma praia com sua linha do horizonte aberta para todos, com direito a expandir seus sonhos: uma simples cidade para as pessoas.

João Suplicy, arquiteto e urbanista, é professor da PUCPR e Presidente da Federación Panamericana de Asociaciones de Arquitectos.

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