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Nos últimos dias, alguns veículos da grande mídia têm se esforçado em produzir certa imagem negativa de um programa desenvolvido pelo governo federal, cujas propostas se alinham a importantes estratégias para a construção de um país com maiores possibilidades para todos. Refiro-me ao Ciência sem Fronteiras (CSF), programa que cria oportunidades para estudantes brasileiros realizarem, desde a graduação, uma experiência internacional.

Reservadas as críticas a que toda e qualquer iniciativa sempre está sujeita, o ataque ao programa, qualificando-o de "turismo sem fronteiras", só pode estar fundamentado em duas possibilidades: ou numa visão parcial, a partir de casos isolados; ou numa deliberada má fé, comum em momentos de debate político eleitoral.

Inequivocamente, o Ciência sem Fronteiras é um grande programa, pois suas metas visam fazer do Brasil um país com maiores oportunidades para todos. A construção de uma nação forte requer a formação de uma sociedade esclarecida, capaz de lançar e vencer desafios; capaz de inovar, renovar ideias, ter iniciativa e empreender. A experiência internacional em universidades reconhecidamente fortes, propiciada por esse programa aos estudantes brasileiros, em diferentes países, insere-se no percurso de formação de uma sociedade nos termos apontados acima.

Afirmo isso como professor do ensino superior e como reitor de uma universidade que tem se mobilizado para avançar na internacionalização. E minha convicção não está assentada somente em impressões e conjecturas, mas em renovado contato com estudantes e professores dentro e fora do país. Os estudantes da universidade a que pertenço, que estudam e/ou estagiam em instituições fora do Brasil, têm vasto cabedal de informações em seus depoimentos sobre o enriquecimento pessoal e profissional adquirido no período de intenso trabalho acadêmico realizado no exterior.

Para além disso, nas visitas que realizei à Coreia do Sul, Alemanha, Bélgica e França, sempre com o intuito de ampliar a cooperação acadêmica internacional, obtive depoimentos de muitos alunos que representam um testemunho inconteste da grandiosidade desse programa. Visitei mais de 30 universidades nesses quatro diferentes países e, na grande maioria delas, estabeleci diálogo direto com grupos de alunos brasileiros. Todos são unânimes em afirmar que cresceram e estão crescendo muito com a ampliação da visão de mundo propiciada por esta experiência. São alunos que, além de vivenciarem uma nova realidade, convivem com um universo de estudantes de inúmeros outros países, todos buscando formação da mais alta qualidade e absolutamente comprometidos com o melhor proveito desta vivência de transformação.

Engana-se ou exagera quem afirma que nossos alunos estão fazendo turismo com os recursos do governo brasileiro. Embora, em todos os países que visitei, a carga horária dos alunos em sala de aula seja significativamente menor que a prática corrente em todos os cantos do Brasil, o tempo de permanência diária do aluno na universidade e o tempo dedicado aos estudos é incomparavelmente maior que a média brasileira. Na Coreia do Sul, dentre as maiores dificuldades apresentadas pelos estudantes em seus depoimentos, o ritmo de estudos exigidos a cada dia se destaca. São mais de 10 horas diárias de esforço intelectual em aulas, laboratórios e bibliotecas. Estudos individuais e em grupo com colegas de diversas nacionalidades marcam o dia a dia destes estudantes. Isso não é diferente nos outros países.

Encontrar estudantes brasileiros nas melhores universidades do mundo, conforme avaliação dos rankings mais consolidados internacionalmente, representa a certeza de que estamos formando um significativo contingente de pessoas que, seguramente, já está ajudando e ajudará ainda mais a melhorar a qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão em nossas universidades, construindo modelos de cooperação com o setor produtivo e desenvolvendo trabalhos que resultem em inovação e fortalecimento da economia e do país como um todo.

Volto ao exemplo da Coreia do Sul. Esse país, até a década de 80 do século passado, encontrava-se em condições de desenvolvimento piores que as do Brasil atual. A Coreia investiu fortemente na formação internacional de seus quadros e, hoje, tem muitas instituições de ensino superior classificadas entre as melhores do mundo, além de contar com uma economia sólida e com um Índice de Desenvolvimento Humano de causar inveja a muitos países que há pouco tempo eram mais desenvolvidos que ela. É na esteira dessa mesma esperança que reconheço a inestimável importância do esforço de internacionalização da formação dos quadros de pessoal que o Brasil vem fazendo, pelos diversos programas destinados a essa finalidade. O Ciência sem Fronteiras não é único neste sentido. Ele é apenas o que deu maior visibilidade a esse trabalho, fruto da sua ampla divulgação nacional e fruto dos significativos números de bolsistas que o CSF propôs atingir e que vem atingindo.

É certo que podemos apontar alguns casos de insucesso de estudantes que não conseguiram se adaptar às diferenças culturais. É igualmente certo que há estudantes descontentes porque não foram classificados para as universidades pretendidas, em função de não conseguirem atingir os índices exigidos. Essas questões, no entanto, não desqualificam o programa. O índice de sucesso é infinitamente superior ao de insucesso e a demanda por oportunidades em uma iniciativa de tão grande alcance como o CSF será sempre muito maior que a possibilidade de atendimento.

É um programa perfeito? Não. Nenhum o é. Mas é, repito, um grande programa, de alcance inestimável no presente. Precisamos ampliá-lo, incluindo áreas do conhecimento ainda não contempladas. Precisamos avaliar e reavaliar constantemente os processos de seleção dos alunos, envolvendo as universidades de origem dos alunos na interlocução do processo com as universidades de destino, de forma a resolver, por exemplo, a questão do reconhecimento de créditos cursados. Enfim, podemos contribuir de muitas formas para melhorá-lo. Entretanto, dizer que ele não é bom significa, para mim, um absurdo provocado pela miopia de quem não quer ver ou, pior, pela má fé deliberada de quem quer reservar as melhores oportunidades da vida para um pequeno grupo que consegue pagar por isso.

A comunidade acadêmica não pode se calar frente ao ataque feito por parte da grande mídia ao programa Ciência sem Fronteiras. Tão prejudicial quanto a manifestação dos oportunistas de plantão é o silêncio dos que discordam. No meu ponto de vista, a comunidade acadêmica é um fórum infinitamente mais qualificado para refletir, debater e sugerir alternativas para o aperfeiçoamento do Ciência sem Fronteiras do que qualquer outra instância da sociedade. Não podemos permitir que este programa acabe, seja pela maledicência, seja pela ação de qualquer governo. Para além de adesão a cores partidárias, minha manifestação é em defesa da permanência e do aperfeiçoamento do CSF, grande estratégia no presente para a construção de um país de maiores e melhores oportunidades para todos.

Aldo Nelson Bona, doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), é reitor da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro).

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