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Engana-se quem acha que o comportamento de certas crianças não tem nada relacionado ao modo como vivem no ambiente familiar. Filhos podem desenvolver o autoritarismo por conta da postura inadequada dos próprios pais. Em meu livro, Síndrome do Imperador – Entendendo a mente das crianças mandonas e autoritárias, pontuo fatores que contribuem para que as crianças se tornem pequenos agressivos e dou soluções para ajudar educadores na criação de seus filhos.

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Primeiramente, é necessário destacar que os pais não podem dar atenção de menos e nem demais. Outro ponto importante é saber que as crianças também têm deveres e direitos, por isso, tenha em sua casa regras e horários estabelecidos. Com ampla experiência em terapia cognitivo-comportamental, posso dizer que uma das soluções é utilizar técnicas como deliberar tarefas aos pequenos: guardar seus próprios brinquedos, ajudar a fazer a lista do supermercado, ter horário para brincar, fazer o dever e ficar em família. Isso gera responsabilidade às crianças e os incentiva a serem autônomos desde cedo. Para pais superprotetores, pode ser difícil, mas é uma etapa essencial.

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Quando atendemos todos os desejos de nossas crianças, elas podem criar um esquema mental de merecimento ou grandiosidade. Por exemplo, quando fazem birra para ganhar um presente ou quando tomam posse de um brinquedo, dizendo “esse brinquedo é meu”, os pais devem corrigir o comportamento na hora, pois dando a eles o que querem apenas para cessar a birra farão com que achem que sempre que fizerem aquilo, irão ganhar o que desejam. Outro erro, que vai de encontro a esse, é deixá-los de castigo. Castigar não é uma opção viável por seu caráter de vingança. Isso só irá estremecer a relação entre pais e filhos, sem que a criança tire algo de aprendizado. Ao invés de dizer “você tirou nota baixa, não vai sair por um mês”, tente “se você não estudar por uma hora, não vai poder jogar videogame hoje”.

Já a ausência de reforço positivo, ou seja, não reconhecer ou elogiar quando o filho faz algo bom, também prejudica no processo de educar. Quando a criança é desobediente e faz algo positivo, os pais devem valorizar aquele comportamento, caso contrário ela irá acreditar que nada adianta se esforçar, já que não recebe o devido reconhecimento.

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Outro caso comum que vejo em minha vasta experiência com atendimento a famílias é pais brigarem e se xingarem na frente de seus filhos.

Do que adianta dar uma bronca por um comportamento que ele está replicando e vendo como exemplo na postura de seus próprios familiares?

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É importante ter em mente que pais com ausência de limites, com posturas rígidas ou até mesmo que demonstram falta de envolvimento com os filhos são indicadores para a criação de pequenos imperadores. Qual tipo de pai, então, seria o ideal? Os chamados ‘pais recíprocos’. Eles cooperam com os filhos, compartilham suas decisões, têm limites definidos, coerência na educação e conseguem manter um relacionamento aberto com as crianças. O ideal é equilibrar dois fatores: a recompensa pelo bom comportamento e a punição adequada pelo comportamento indesejado, tudo isso dentro de um ambiente terno e carinhoso. Costumo dizer que o tripé da educação está em três pilares – o afeto, o limite e o lazer.

Lilian Zolet é psicóloga e fisioterapeuta formada pela Faculdade União das Américas (UNIAMÉRICA) e especialista em Saúde Pública e da Família e em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Trabalha com crianças, adolescentes e famílias e ministra palestras e cursos sobre psicoeducação. Além do ‘Síndrome do Imperador’, a especialista é coautora do livro ‘Terapia Cognitivo-Comportamental em Crianças e Adolescentes: Guia de Referência de Ferramentas e Estratégias Terapêuticas’, premiado pela Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC) com o prêmio Bernard Rangé, em 2013. Atualmente, atende em sua clínica em Foz do Iguaçu, no Paraná.