Imagem ilustrativa.| Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
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Nos últimos tempos, a XP voltou a ser alvo de acusações sobre a sua operação, desta vez pela empresa de research americana Grizzly Research. A alegação central do relatório divulgado é que a rentabilidade da companhia seria sustentada por um modelo de negócios semelhante a um esquema Ponzi. No entanto, uma análise mais profunda dos produtos financeiros oferecidos e da estrutura da empresa sugere uma realidade diferente, mostrando que não configura um esquema de pirâmide, na minha opinião baseada em mais de 10 anos de atuação no mercado.

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Boa parte das críticas ao modelo da XP gira em torno do Certificado de Operações Estruturadas (COE), um produto financeiro relativamente sofisticado que combina ativos diversos para oferecer proteção e retorno aos investidores. Para compreender a estrutura, podemos imaginar o COE como uma “caixa de aço” na qual são combinados diferentes produtos financeiros, como títulos públicos e opções de compra de ativos. Essa combinação permite que o investidor participe da valorização de determinado ativo sem correr risco total de perda do capital investido.

A XP construiu sua reputação ao democratizar o acesso a produtos financeiros sofisticados no Brasil. Isso não significa que a empresa esteja isenta de desafios e aprimoramentos, especialmente na comunicação e na educação financeira de seus clientes

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A principal questão levantada no relatório da Grizzly Research parece se apoiar no desconhecimento sobre como essas operações funcionam. O fato de a XP lucrar significativamente com derivativos não indica, por si só, a existência de um esquema fraudulento. Pelo contrário, demonstra a expertise da empresa nesse segmento, algo reconhecido globalmente.

A XP é uma das líderes em operações estruturadas no Brasil e, por conta disso, possui um fluxo robusto de transações que envolve clientes institucionais e individuais. No universo dos derivativos, uma estratégia comum é o Delta Hedge, que permite reduzir riscos e criar posições balanceadas sem necessidade de apostas especulativas diretas. Isso é parte essencial da estratégia dos market makers, que atuam intermediando grandes volumes de ordens no mercado financeiro.

Ao contrário do que sugere o relatório da Grizzly Research, a XP não depende exclusivamente da venda de produtos para investidores de varejo. Seus fundos, mesas de operações e serviços institucionais são fontes de receita que sustentam a lucratividade da companhia, muitas vezes utilizando estratégias avançadas para mitigar riscos e maximizar ganhos.

Uma das críticas mais recorrentes contra a XP é a suposta falta de transparência sobre a composição de seus fundos, como o Glaudius. Como esses veículos operam com milhares de ativos, muitas vezes derivativos, há uma dificuldade natural para que investidores externos compreendam completamente a dinâmica da carteira. Entretanto, essa complexidade não significa que a empresa esteja escondendo informações ou manipulando preços, mas sim que o mercado de derivativos é, por natureza, altamente técnico e sofisticado.

Outro ponto frequentemente debatido é a venda de COEs para investidores de varejo. Esse tipo de produto foi originalmente criado para grandes instituições financeiras, onde as taxas e o volume justificam a operação. No varejo, as taxas podem parecer altas quando vistas de forma isolada, mas, proporcionalmente, são similares às de outros produtos financeiros tradicionais, como fundos de investimento.

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É natural que empresas de grande porte e crescimento acelerado, como a XP, sejam alvo de questionamentos e críticas. O mercado financeiro é um ambiente de constante escrutínio, e investidores têm o direito de buscar transparência e segurança em suas aplicações. No entanto, as alegações de que a XP opera um esquema Ponzi não se sustentam quando analisamos os fundamentos do modelo de negócios da companhia.

A XP construiu sua reputação ao democratizar o acesso a produtos financeiros sofisticados no Brasil. Isso não significa que a empresa esteja isenta de desafios e aprimoramentos, especialmente na comunicação e na educação financeira de seus clientes. Mas, ao contrário do que sugerem alguns relatórios internacionais, o sucesso da XP está fundamentado em inovação e estratégia de mercado, e não em práticas fraudulentas. O debate sobre a XP é válido e deve continuar, mas sempre pautado por análises técnicas e dados concretos, em vez de narrativas alarmistas que podem distorcer a realidade do setor financeiro brasileiro.

Manoel do Vale, bacharel em Ciências Econômicas e Ciências Políticas, é sócio-fundador da Options & Company.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]