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"Eleição se ganha com planejamento." (Frase da campanha eleitoral do ex-governador Ney Braga – 1960). De lá pra cá, muita coisa mudou, mas essa idéia pegou.

Os partidos buscam candidatos dispostos a vencer eleições. E muitos candidatos. Quanto mais, melhor. Isso não é o mesmo que ter boas intenções e propostas. Há candidatos que venderam todos os seus negócios (uma rede de lojas); compraram rádios e TVs; prepararam filhos e família; contrataram especialistas em direito eleitoral, compraram pesquisas sobre convicções de ricos e pobres, cultos e incultos (em grandes e pequenas cidades); foram aos empresários buscar doações; e o mais importante: sabem quantos são os indecisos de cada localidade. Enfim, o eleitor está sendo estudado em todos os detalhes. Os candidatos concorrentes também. O que se fala em eleição é, provavelmente, o que precisa ser dito. Essa sabedoria política antiga pode e está sendo construída profissionalmente para vencer eleições.

Os candidatos agem como se estivessem num mercado eleitoral. Para um candidato disposto a ganhar eleições, o processo eleitoral precisa ser fundado em muitos dados e assessorias especiais. Essa profissionalização dos processos de competição eleitoral já foi às últimas conseqüências na política nacional, foi à ilegalidade, e está crescendo na política do Paraná.

A democracia que estamos construindo tem e continuará a ter estas características: políticos profissionais e disputas cada vez mais planejadas. E não é só por dinheiro, vaidade pessoal ou desejo de poder que os políticos fazem isso. Em muitos casos, é só vencendo eleições e conquistando poder de decisão política que uma parcela da sociedade ou uma região pode melhorar de vida. E amadores estão ficando de fora.

E o eleitor? Como votar bem? Não é simples. Obter informação política de boa qualidade tem um alto custo em tempo, dinheiro e privação de lazer. A mídia pode baratear o acesso à informação. Mas a mídia está mais atenta ao choques entre candidatos, ou dos candidatos com a Justiça. Os projetos e idéias estão na propaganda dos próprios candidatos. E dá pra confiar?

Nestas eleições, vimos muitos candidatos falar como se estivessem diante de um empregador: "tenho experiência, seriedade, dedicação e conhecimento. Vote em mim." A maioria falou como fala um gerente. Os partidos não simbolizam um projeto econômico de longo prazo. Nem uma ética. Nossos candidatos a cargos executivos querem gerenciar a compra e distribuição de alimentos, de remédios, de equipamentos para a polícia; contratar professores e construir estradas. Os do Legislativo querem "ser o seu deputado", ou "o seu senador". A própria Justiça Eleitoral reforçou: "Você é o patrão".

Então viramos todos patrões que contratam gerentes de projetos. O lado positivo: a política fica mais simples. Se não foi bem, demite. O lado negativo: ninguém fala de futuro. Perguntar o que será o Paraná daqui a 20 anos parece falar sobre fantasma, disco voador.

Como vencer eleições passou a ser o problema concreto da política. Mas como escolher governantes continua a ser o nosso problema. O candidato usa sua maquinaria de campanha. O eleitor o que tem? Pode se apoiar na Justiça Eleitoral, ONGs, nas pesquisas acadêmicas ou na imprensa. Mas está em franca desvantagem nesse mercado de informação política. Na reta final chamou minha atenção o fato de predominar, na grande Curitiba, a propaganda de candidatos à reeleição. São os profissionais da política. Parece que acabou a energia dos novos. Faltou dinheiro e planejamento.

As eleições são um bem público fundamental. São um meio indispensável para a solução dialogada de conflitos de interesses. Corromper um bem público não é só desviar dinheiro ou subornar. É também diminuir a importância das coisas públicas, reduzi-las ao que não são. O "futuro" precisa voltar nas próximas eleições. Não há organização que sobreviva se tiver apenas o olhar para as coisas do dia-a-dia. E um estado é bem mais do que um departamento.

http://politicaparana.blogspot.comcarlosdir@uol.com.br

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